A cada amanecer, às seis em ponto, Beatriz percorria os corredores majestosos da mansão Valeira, com os cabelos presos sob uma fita branca e o uniforme negro impecavelmente engomado. Movia-se em silêncio, metódica, lustrando candelabros, esfregando os pisos de mármore e limpando o pó dos retratos de aristocratas há muito falecidos, que a observavam de cima como se ela não pertencesse àquele lugar.
Para os hóspedes —e até para alguns residentes permanentes—, Beatriz era invisível. Apenas uma criada, ali para limpar a sujeira alheia. Mas o que ninguém sabia —o que ela mantivera em segredo por mais de um ano— era que Beatriz Almeida não era apenas uma empregada. Era a verdadeira dona da mansão Valeira.
A propriedade pertencera a seu falecido marido, Eduardo Valeira III, um bilionário solitário, cuja morte súbita por um ataque cardíaco chocara a alta sociedade. No testamento, ele deixara tudo para Beatriz —sua esposa por apenas dois anos, vista por muitos como um capricho, um caso passageiro, um escândalo.
Para se proteger —e proteger a mansão— de parentes gananciosos e investidores traiçoeiros, Beatriz manteve a herança em segredo até que a situação legal fosse resolvida. E, enquanto isso, permaneceu no único lugar onde ninguém a procuraria: entre a serventia.
Capítulo 2: A Troça dos Hóspedes
—Credo, ainda está aqui? —zombou Leonor, os saltos ecoando no chão ao entrar no salão—. Juro que fica mais lerda a cada dia.
Beatriz baixou os olhos e passou o pano suavemente pelo parquete.
—Cheira a lixívia e sabão barato —sussurrou Matilde, com sarcasmo—. Não sabe que isto é uma mansão e não um balneário público?
As três riram —Leonor, Matilde e Joana. Três meninas mimadas que viviam na propriedade desde a morte de Eduardo, fingindo pertencer ao lugar e esperando herdar um pedaço da fortuna.
E depois havia Afonso —alto, arrogante, sempre de terno impecável, com o olhar fixo no seu objetivo. Era um primo distante de Eduardo e julgava-se o legítimo herdeiro.
—Breve esvaziamos este lugar —murmurou certa vez a Joana, sem perceber que Beatriz estava na sala ao lado.
Beatriz nunca respondia às suas provocações. Não precisava. Cada insulto, cada comentário sarcástico, só a fortalecia. Porque eles não faziam ideia de quem estavam a desprezar.
Capítulo 3: O Baile de Beneficência
Tudo mudou no baile anual de beneficência dos Valeira. A mansão fervilhava de emoção. Políticos influentes, celebridades e herdeiros de dinastias antigas desfilavam pela entrada principal. O pessoal da casa —vestido elegantemente— apressava-se a servir taças de champanhe e canapés.
Beatriz, como sempre, mantinha-se discreta no seu uniforme, coordenando a equipa com eficiência silenciosa.
Até que Afonso decidiu transformá-la no alvo da noite. No meio do salão de baile, cercado por convidados curiosos, chamou-a com um gesto.
—Tens uma nódoa —disse, apontando para um canto impecável do chão. O público riu.
Beatriz anuiu educadamente e inclinou-se para limpar.
Afonso sorriu com arrogância.
—Talvez devêssemos cobrar entrada para a ver a limpar. O que acham? Entretenimento ao vivo!
Leonor bateu palmas.
—Dêem-lhe um aumento! De invisível a quase visível!
As gargalhadas ecoaram pelo salão.
Lentamente, Beatriz ergueu-se.
—Chega —disse com voz baixa, mas firme.
Afonso pestanejou.
—O que disseste?
Beatriz tirou o avental, dobrou-o com cuidado e colocou-o sobre uma mesa.
—Suportei a tua arrogância por muito tempo —continuou—. Insultas-me, gozas comigo, falas como se fosses dono desta casa. Mas não és.
O salão caiu em silêncio.
—Estás despedido, Afonso —disse, olhando-o nos olhos.
Leonor riu com nervosismo.
—Não podes despedir ninguém, se és apenas uma—
—Sou Beatriz Valeira —afirmou, com voz que ecoou pelas paredes—. A legítima dona desta mansão.
Um murmúrio percorreu a sala.
Afonso ficou pálido.
—Isso… é impossível. Eduardo nunca—
Beatriz tirou um documento dobrado do bolso e entregou-o ao convidado mais próximo— que, por acaso, era um advogado.
O homem folheou rapidamente o papel e ergueu as sobrancelhas.
—É autêntico. Eduardo deixou-lhe toda a propriedade, incluindo todos os bens.
O rosto de Afonso empalideceu.
Com um aceno de Beatriz, os seguranças avançaram.
—Por favor, acompanhem-no e aos seus amigos para fora da propriedade.
—Mentiste-nos! —gritou Matilde, com a voz a tremer.
—Não —respondeu Beatriz com calma—. Apenas vos deixei mostrar quem realmente são.
Capítulo 4: A Solidão da Dona
Naquela noite, quando as luzes se apagaram e o último convidado partiu, Beatriz ficou sozinha no grande salão—não já como a empregada de limpeza, mas como a mulher a quem tudo pertencia.
Mas a batalha estava longe de terminada. Afonso não se renderia tão facilmente.
E Beatriz sabia: isto não era o fim.
Capítulo 5: A Resistência de Afonso
Na manhã seguinte, Beatriz acordou determinada a enfrentar o que viesse. Sabia que Afonso tentaria reclamar o que julgava seu. Enquanto preparava o café, ouviu uma pancada na porta. Era um dos advogados da família Valeira.
—Senhora Valeira, precisamos falar —disse o homem com seriedade.
Beatriz levou-o até à sala, onde o ar cheirava a café frescamente moído.
—Afonso tem andado a falar com alguns investidores —continuou o advogado—. Está a tentar convencê-los de que a senhora não tem direito à mansão.
Beatriz franziu o sobrolho. Sabia que Afonso tinha influência e usá-la-ia para minar a sua posição.
—Não posso permitir isso. Preciso proteger a minha casa.
O advogado concordou.
—Podemos lutar judicialmente, mas precisaremos de provas sólidas.
Beatriz pensou. Havia algo que poderia fazer.
Capítulo 6: A Estratégia de Beatriz
Beatriz decidiu investigar o passado de Afonso. Passou dias a revistar documentos, falando com antigos empregados. No sotão, encontrou uma caixa de cartas antigas, escritas por Eduardo, mencionando o comportamento duvidoso do primo.
Sorriu. Teria ali a sua arma.
Capítulo 7: O Confronto
Com as provas reunidas, Beatriz convocou os investidores. Apresentou as cartas, mostrando o verdadeiro carácter de Afonso.
—Ele não merece confiança —disse.
Os homens hesitaram.
—E por que havemos de acreditar em si?
—Porque sou Beatriz Valeira —ergueu a voz—, e esta é a minha casa.
O silêncio tomou conta da sala.
Capítulo 8: A Decisão dos Investidores
No fim, decidiram apoiá-la. Afonso, furioso, ergueu-se.
—Isto não acabou! —gritou, antes de sair.
Beatriz respirou fundo. Ganhara uma batalha, mas sabia que a guerra continuava.
Capítulo 9: A Vingança de Afonso
Dias depois, começPor fim, depois de vencer todas as batalhas, Beatriz olhou pela janela da sua mansão e sorriu, sabendo que o seu legado de coragem e dignidade permaneceria para sempre.