A empregada humilhada… era a verdadeira dona da mansão.

Todas as manhãs, às seis em ponto, Beatriz percorria os corredores imponentes da mansão Almeida, com os cabelos presos sob uma fita branca e o uniforme negro engomado de forma impecável. Movia-se em silêncio, metódica, lustrando castiçais, esfregando os pisos de mármore e tirando o pó dos retratos de aristocratas há muito falecidos, que a observavam de cima como se ela não pertencesse àquele lugar.

Para os hóspedes —e até mesmo para alguns residentes permanentes— Beatriz era invisível. Apenas uma criada, ali para limpar a sua sujeira. Mas o que ninguém sabia —o que ela guardava em segredo há mais de um ano— era que Beatriz Carvalho não era apenas uma empregada. Era a verdadeira dona da mansão Almeida.

A propriedade pertencera ao seu falecido marido, Rodrigo Almeida, um bilionário solitário cuja morte súbita por enfarte chocou a alta sociedade. No testamento, ele deixara tudo para Beatriz —sua esposa por apenas dois anos, vista por muitos como um capricho, uma aventura, um escândalo.

Para se proteger —e proteger a mansão— de parentes gananciosos e investidores traiçoeiros, Beatriz manteve a herança em segredo enquanto as questões legais se resolviam. E, enquanto isso, permaneceu no único lugar onde ninguém suspeitaria encontrá-la: entre os funcionários.

Capítulo 2: A Humilhação dos Hóspedes

—Eca, ainda está aqui? —zombou Sofia, os saltos ecoando no chão ao entrar no hall—. Juro que fica mais lenta a cada dia.

Beatriz baixou o olhar e passou o esfregão suavemente pelo mármore.

—Cheira a lixívia e sabão barato —sussurrou Leonor com sarcasmo—. Não sabe que isto é uma mansão e não uma casa de banho pública?

As raparigas riram-se —Sofia, Leonor e Matilde. Três mimadas arrogantes que viviam na propriedade desde a morte de Rodrigo, fingindo pertencer ali e esperando herdar um pedaço da fortuna.

E depois havia Martim—alto, arrogante, sempre de fato impecável, com os olhos fixos no prêmio. Era um primo distante de Rodrigo e julgava-se o verdadeiro herdeiro.

—Em breve, esvaziamos este lugar —sussurrou uma vez a Matilde, sem perceber que Beatriz estava na sala ao lado.

Beatriz nunca respondia às provocações. Não precisava. Cada insulto, cada comentário sarcástico só a fortalecia. Porque não faziam ideia de quem estavam a humilhar.

Capítulo 3: A Festa de Beneficência Anual

Tudo mudou na festa anual de caridade dos Almeida. A mansão fervilhava de excitação. Políticos poderosos, celebridades e herdeiros de dinastias antigas desfilavam pelo salão principal. A equipa, elegantemente vestida, corria com taças de champanhe e arranjos florais.

Beatriz, como sempre, usava o uniforme, mantendo-se discreta e coordenando os empregados com silenciosa eficiência.

Até que Martim decidiu torná-la o alvo das risadas da noite. No meio do salão, rodeado por espectadores curiosos, chamou-a com um gesto arrogante.

—Tens uma mancha aqui —disse, apontando para um pedaço de chão impecável. A plateia soltou gargalhadas.

Beatriz anuiu educadamente e inclinou-se para limpar.

Martim sorriu, cheio de si.

—Talvez devêssemos cobrar entrada para vê-la a limpar. O que acham? Entretenimento ao vivo!

Sofia bateu palmas.

—Dêem-lhe um aumento! De invisível para quase visível.

As gargalhadas ecoaram pelo hall.

Lentamente, Beatriz endireitou-se.

—Chega —disse, baixo mas firme.

Martim pestanejou.

—O que disseste?

Beatriz tirou o avental, dobrou-o com cuidado e depositou-o numa mesa.

—Aguentei a tua arrogância por muito tempo —continuou—. Insultas-me, gozas comigo, falas como se fosses dono desta casa. Mas não és.

O salão ficou em silêncio.

—Estás despedido, Martim —disse, encarando-o nos olhos.

Leonor riu-se, nervosa.

—Não podes despedir ninguém, se és só uma—

—Sou Beatriz Almeida —declarou, e a voz ecoou pela sala—. A legítima herdeira e dona desta mansão.

Um murmúrio percorreu a assistência.

O queixo de Martim caiu.

—Isso… é impossível. Rodrigo nunca—

Beatriz tirou um documento dobrado do bolso e entregou-o ao convidado mais próximo —que por acaso era um advogado.

O homem folheou o papel rapidamente, arqueando as sobrancelhas.

—É autêntico. Rodrigo deixou toda a propriedade, incluindo os bens, à sua esposa Beatriz.

O rosto de Martim perdeu a cor.

Com um gesto de Beatriz, os seguranças avançaram.

—Por favor, acompanhem-no e aos seus amigos até à saída.

—Mentiste-nos! —gritou Matilde, a voz trémula.

—Não —respondeu Beatriz com calma—. Apenas deixei que mostrassem quem realmente são.

Capítulo 4: A Solidão da Dona

Naquela noite, quando as luzes se apagaram e o último convidado partiu, Beatriz ficou sozinha no grande salão—não mais como a empregada. Mas como a mulher a quem tudo pertencia.

Mas a batalha estava longe de terminar. Martim não desistiria tão facilmente.

E Beatriz sabia: isto não era o fim.

(Continua com os demais capítulos adaptados, seguindo a mesma lógica de nomes, cenários e expressões portuguesas.)

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