De Volta com Dois Corações nos Braços

**Diário de uma Mãe Corajosa**

Quando o médico colocou sobre o meu peito dois pequeninos seres—um menino e uma menina—meu coração encheu-se de uma ternura indescritível e, ao mesmo tempo, de uma dor profunda. A dor não vinha do parto, nem do cansaço, mas da ausência do meu marido. Ele havia prometido estar ao meu lado naquele dia, jurou que viria, que me apoiaria, que traria flores. Mas só a enfermeira entrou no quarto, com indiferença:

— Seu marido não veio.

Tentei não chorar, mas algo dentro de mim se partiu.

Os três dias no hospital pareceram uma eternidade. Eu esperava vê-lo a cada momento, ouvir seus passos no corredor. Mas o telefone permanecia em silêncio. Ele não atendia, e quando finalmente consegui falar com ele, respondeu secamente:

— Estou ocupado.

Ocupado… enquanto eu, sua esposa, tinha acabado de dar à luz os seus dois filhos.

A alta foi um martírio. As outras mulheres saíam de braço dado com os maridos, cercadas por familiares, balões, risadas e fotos. Eu estava sozinha na porta da maternidade, com dois pequenos embrulhos nos braços e um nó na garganta.

— Táxi para a Rua das Acácias, número oito, — pedi, ajustando o menino no colo e abraçando a menina.

O motorista olhou pelo retrovisor. Duas cabecinhas, uma fita rosa e outra azul. Dois pares de olhos que ainda não conheciam a dor ou a traição, fitando-me com uma confiança que eu não poderia trair.

— E o pai está a esperar? — perguntou ele, finalmente.

Virei-me para a janela. O que eu poderia responder? Que meu marido me bateu no oitavo mês e depois desapareceu? Que passou três dias sem aparecer ou perguntar por nós? Que o único buquê no quarto veio da vizinha do prédio?

Beatriz—como chamei minha filha—franziu o narizinho e chorou. Martim, seu irmão gémeo, seguiu o exemplo. Balancei-os nos braços, murmurando:

— Calma, meus amores… a mãe está aqui.

Assim começou minha nova vida.

O táxi parou suavemente diante do prédio conhecido. Uma bolsa, dois embrulhos e mãos trémulas—era tudo o que eu tinha. Saí com dificuldade, segurando os filhos. O motorista quis ajudar, mas recusei com orgulho:

— Obrigada, eu consigo.

Ele acenou e, com um olhar demorado, disse inesperadamente:

— Força, menina. Agora tem alguém por quem viver.

Suas palavras cortaram-me, pois eu ainda não tinha compreendido: tudo dependia de mim.

Subir até o quarto andar sem elevador foi um suplício. A cada patamar, sentia vontade de desabar e chorar. Mas os pequenos resmungavam, e isso dava-me forças. Sabia que não podia falhar.

O apartamento cheirava a abandono. Ele nem se preocupara em limpar. Pratos sujos na pia, cinzeiros na janela, garrafas de cerveja vazias. Desviei o olhar—algum dia eu sonhara que este seria um lar feliz, cheio de amor e risos infantis. Agora, parecia ruína.

Deitei Beatriz e Martim nos berços que preparei antes do parto. Os dois dormiam juntos, como se sempre soubessem que eram um. Sentei-me ao lado e, pela primeira vez, deixei escapar um soluço.

— A mãe está aqui, — sussurrei. — Não vou deixar ninguém magoar-vos.

Naquela noite, não dormi. Os bebés choravam alternadamente, e eu corria de um para o outro. Cansava-me, mas não importava.

O telefone permanecia mudo. Ele não ligou.

Na manhã seguinte, alguém bateu à porta. Era a Dona Anabela, a vizinha que me trouxera flores no hospital. Segurava uma panela.

— Ó mãe valente, abre! — disse, com um sorriso forçado.

Deixei-a entrar, grata.

— Fiz canja, precisas de te alimentar. Criar dois não é fácil. Onde está o teu marido? — olhou para as garrafas vazias.

Apertei os lábios.

— Não sei.

Ela suspirou, mas não perguntou mais.

Assim passaram os dias: noites sem dormir, fraldas sem fim, cólicas… mas também felicidade—pura e verdadeira.

Uma semana depois, ele ainda não aparecera. Nem mensagem. Quando eu ligava, ele desligava ou dizia “Estou ocupado.”

Numa noite, com os gémeos a dormir, sentei-me à janela e percebi: não havia mais nada a esperar.

Nasceu em mim uma força nova. A força de uma mãe.

— Eu consigo, — disse em voz alta. — Por Beatriz e Martim.

E consegui. Mesmo cansada, mesmo chorando às vezes, cada amanhecer trazia a certeza: meus filhos sorriam para mim.

O dinheiro acabava rápido. Fraldas, leite, remédios—tudo custava caro. Certo dia, na farmácia, contei moedas para comprar remédio contra as cólicas. Faltavam vinte cêntimos. Uma senhora atrás de mim ofereceu:

— Toma, mãezinha. Vai correr tudo bem.

Chorei ali mesmo.

Na quarta semana, ele apareceu. Bêbado. Não olhou para os bebés.

— Então, mãe heróica, estás a dar conta? — zombou.

— Onde estiveste? — perguntei, segurando Beatriz. — Nem para nos veres vieste.

— Deixa-me em paz, tenho problemas.

— Eles são teus filhos!

— Meus? — deu uma risada fria. — Nem sequer se parecem comigo.

As palavras doeram mais que um murro.

— Vai-te embora, — disse, exausta.

Ele saiu, deixando apenas o cheiro de tabaco barato.

Naquela noite, decidi: seria mãe e pai. Pedi ajuda à Dona Anabela, aprendi a economizar.

O motorista do táxi—o Manuel—começou a aparecer mais. Trazia mantimentos, ajudava com os gémeos. Um dia, confessou:

— Há homens que são pais por sangue, mas não no coração. E outros que, mesmo sem laços, tornam-se pais de verdade.

Chorei, mas de alívio.

Quando ele reapareceu, bêbado e arrogante, eu já não era a mesma.

— Quero voltar, — disse ele.

— Não precisamos de ti, — respondi, enquanto o Manuel entrava com um saco de compras.

Ele ficou furioso, mas eu fechei a porta.

Hoje, dois anos depois, o Manuel é o pai que os meus filhos merecem. Ensina o Martim a jogar bola, carrega a Beatriz nos ombros. E para mim, é o amor que nunca pensei encontrar.

Naquele dia, ao voltar para casa com as crianças, ele estava à porta com um ramo de malmequeres—minhas flores favoritas.

— Vamos, mãe, — disse, abraçando-me. — Vamos para casa.

E eu soube: finalmente, tínhamos um.

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