A sala de reuniões ficou em silêncio quando Tiago Mendes, o bilionário CEO da MendesTech, recostou-se na cadeira de couro, sorriu com ar de desafio e disse: “Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta.” As palavras pairaram no ar como um desafio, uma provocação—ou quem sabe, quem sabe—uma confissão disfarçada de arrogância.
Os executivos ao redor da mesa olharam para ele, sem saber se era brincadeira. Afinal, Tiago Mendes não era conhecido por sentimentalismos. Era famoso por números, aquisições impiedosas e por ser o mais jovem bilionário da tecnologia em Lisboa. Amor, romance ou relacionamentos simplesmente não faziam parte da sua vida blindada de luxo.
Mas agora ele tinha dito. E ninguém ousou rir.
Tiago odiava casamentos. Tinha acabado de voltar do casamento extravagante do irmão mais novo na região do Douro, onde o amor fora exibido como troféu e os convidados brindaram ao “para sempre” como se fosse uma marca de vinho português. Melhores presentes para quem você ama
Odiava o jeito que todos olhavam para ele, perguntando quando seria a sua vez—como se casar fosse um ritual obrigatório. Como se o matrimônio completasse alguém.
Ele revirou os olhos durante toda a festa e voltou para casa com um desgosto renovado por qualquer coisa que cheirasse a compromisso.
Foi quando o assistente executivo, o Hugo, provocou: “Tu nunca vais te prender a ninguém porque tens medo de conexão real.” Tiago reagiu na hora.
“Está bem,” disse. “Vou provar que isso tudo é bobagem.”
“Como, exatamente?” perguntou Hugo.
“Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta,” declarou, apontando para a porta de vidro da sala de reuniões.
Um murmúrio de incredulidade varreu a sala.
“Falas a sério?” perguntou a Marta, a chefe de marketing.
“Morto sério,” respondeu Tiago. “Ela entra, a gente conversa, eu peço em casamento. É simples assim. Amor é uma transação comercial. Nada mais. Assino os papéis, visto a aliança, sorrio para as câmeras. Vamos ver quanto dura.”
Todos o encararam, uma mistura de choque e desconforto estampado nos rostos. Mas Tiago não recuou. Ele falava sério—ou pelo menos achava que sim.
Lá fora, passos ecoaram no corredor.
Alguém se aproximava. A equipe virou-se nas cadeiras, à espera de ver quem o destino—ou a loucura—traria.
A porta abriu-se.
E Tiago congelou.
Ela não era o que ele esperava.
Na verdade, não pertencia ali de forma alguma.
Não estava vestida com marcas de grife ou um blazer impecável. Usava jeans, uma camiseta cinza com o logotipo desbotado de uma livraria e carregava uma pilha de cartas entregues no lugar errado.
O cabelo estava preso num rabo de cavalo desarrumado, desleixado pelo calor do verão, e os olhos arregalaram-se quando ela parou, confusa com a atenção repentina.
“Acho que isto foi entregue no andar errado,” disse, erguendo as cartas. “Eu sou da—”
“Quem és tu?” Tiago interrompeu, levantando-se.
Ela pestanejou. “Sou… a Leonor. Leonor Silva. Trabalho no café do 5º andar.”
Um riso abafado percorreu a sala, mas Tiago não riu. Nem sequer pestanejou.
O coração dele, que normalmente só batia por eficiência, deu uma falha.
Porque havia algo nela. Algo completamente fora do lugar no seu mundo cuidadosamente planeado de metas trimestrais e projeções anuais.
Devia ter dado de ombros, chamado aquilo de brincadeira, mas as palavras que dissera—”Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta”—ecoaram na sua cabeça como um desafio do universo.
E, pela primeira vez em muito tempo, não soube o que dizer.
Leonor, cada vez mais confusa, ergueu uma sobrancelha. “Isto é… algum tipo de reunião?”
“Sim,” respondeu Tiago, recompondo-se. “Sim, é. E tu acabas de fazer parte dela.”
De volta ao escritório, Tiago revia a cena na cabeça. Não conseguia parar de pensar nela—o jeito que inclinara a cabeça com curiosidade, a honestidade, a completa ignorância sobre quem ele era.
“Não acredito que vais fazer isto,” disse Hugo, seguindo-o.
“Disse que faria,” respond”E, no fim, o homem que acreditava que o amor era só um jogo percebeu que a mulher que entrou por aquela porta, sem querer, era a única que poderia ensiná-lo o verdadeiro significado de confiar.”