“A tua mulher ainda está viva,” disse a menina sem-abrigo—e naquele momento, o bilionário iniciou uma investigação que iria abalar tudo.
O sol mergulhava por trás dos túmulos de mármore enquanto Diogo Mendes permanecia em silêncio, a olhar para a campa da sua mulher, Leonor. O bilionário e CEO da Mendes & Filhos já assistira a inúmeros funerais—de empregados, sócios, até de rivais—mas nada se comparava ao dia em que enterrara o amor da sua vida, dois anos atrás.
Ou pelo menos era o que ele pensava.
O seu fato preto apertava-lhe o corpo sob o peso de uma dor que nunca o abandonara. Colocou lírios brancos frescos sobre a campa e sussurrou: “Daria tudo o que tenho só para te ver mais uma vez.”
“Talvez não tenhas de dar.”
Diogo virou-se. A poucos passos dele estava uma menina que não aparentava ter mais de treze anos, o rosto sujo, o cabelo emaranhado, a roupa rasgada a cair-lhe do corpo franzino. Parecia não ter comido há dias.
“O que é que acabaste de dizer?” perguntou, a voz cortante.
A menina aproximou-se, ignorando o tom irritado. Os seus olhos azuis ardiam com uma certeza inquietante. “A tua mulher… não está morta.”
Diogo sentiu o peito apertar. “Isso é impossível. A Leonor morreu num acidente de carro. Eu enterrei-a com as minhas próprias mãos.”
Ela abanou lentamente a cabeça. “Não, enterraste outra pessoa. A tua mulher está viva. Eu vi-a.”
Um vento frio varreu o cemitério, mas Diogo mal o sentiu. Fitou a menina, tentando decifrar a sua expressão. Ela não sorria, não estava a brincar. Havia uma convicção na sua voz que lhe gelou a espinha.
“Quem és tu?” exigiu Diogo. “Que jogo é este que estás a jogar?”
“Chamo-me Lúcia,” disse ela, suavemente. “Não estou a mentir. Ela está viva… e precisa da tua ajuda.”
Os punhos de Diogo cerraram-se. “Se isto é algum esquema—”
“Não é!” exclamou Lúcia, a voz a quebrar. “Eu sei onde ela está. Mas se descobrirem que te contei, vão magoá-la. A mim também.”
Diogo ficou imóvel. *Eles?*
Respirou fundo, forçando a voz a acalmar. “Começa do princípio. Quem a tem? Onde ela está?”
Lúcia olhou em volta, nervosa, como se as lápides tivessem ouvidos. “Aqui não. Podem estar a vigiar.”
Diogo observou as roupas esfarrapadas da menina, as mãos a tremer. Ela não estava a representar. Se fosse um golpe, era o mais convincente que já vira. Mas… e se não fosse? E se a Leonor estivesse mesmo viva?
“Entra no carro,” disse Diogo, finalmente. “Vamos para um lugar seguro.”
O Mercedes preto afastou-se do cemitério, com Lúcia encolhida no banco de trás. Diogo sentou-se ao seu lado, cada músculo tenso.
“Fala,” ordenou.
Ela engoliu em seco. “Há dois anos, o acidente do carro da tua mulher não aconteceu como disseram. Ela foi raptada. O acidente foi encenado.”
O coração de Diogo disparou. “Raptada? Por quem?”
“Não sei os nomes deles,” sussurrou Lúcia. “Mas são ricos. Poderosos. Mantêm-na numa mansão fora da cidade. Ela está trancada quase sempre. Eu… eu estive lá uma vez.”
Diogo aproximou-se. “Como é que sabes tudo isto?”
“Porque eu escapei,” disse Lúcia, com lágrimas nos olhos. “Levaram outras mulheres também. Eu era para ser uma delas. Mas fugi.”
Diogo sentiu o ar faltar-lhe. Leonor… viva, presa, a sofrer durante dois anos enquanto ele a chorava? Uma fúria gelada consumiu-o.
“Onde é a mansão?” exigiu.
Lúcia sacudiu a cabeça. “Não posso simplesmente dizer-te. Se me virem lá perto, matam-me.”
Diogo pegou no telemóvel. “Contrato segurança. Protejo-te.”
Mas Lúcia agarrou-lhe o braço. “Sem seguranças. Sem polícia. Não percebes—eles têm gente em todo o lado. Se chamares a polícia, ela morre.”
A mente de Diogo acelerou. Ele era um homem que controlava impérios, esmagava concorrentes, mas isto? Isto era diferente.
“Porque é que estás a contar-me isto?” perguntou.
“Porque ela salvou-me,” disse Lúcia, a tremer. “A tua mulher… ajudou-me a fugir. Disse-me para te encontrar.”
A respiração de Diogo falhou. Por um instante, viu o rosto de Leonor—o sorriso, o riso, o jeito como lhe apertava a mão.
“Tens provas?” sussurrou.
Lúcia enfiou a mão no casaco rasgado e tirou uma fotografia amarrotada. Diogo agarrou-a, os olhos a alargarem-se.
Era Leonor. Mais magra, o cabelo despenteado—mas era ela. E nos seus olhos… aquele mesmo fogo pelo qual ele se apaixonara. Nas costas da foto, duas palavras rabiscadas: “Ajuda-me.”
Diogo apertou a foto até os nós dos dedos branquearem.
“Onde ela está?” A voz era baixa, mortal.
Lúcia hesitou, o medo a pairar no seu olhar. “Se eu te disser, não há volta a dar. Vão atrás de ti também.”
Diogo inclinou-se para a frente, o maxilar cerrado, a voz como aço.
“Então que venham. Porque quem raptou a minha mulher vai aprender o que acontece quando se mete com Diogo Mendes.”
E com isso, o bilionário iniciou uma investigação que iria abalar a cidade até aos alicerces.
Diogo não era homem de agir por impulso, mas, no momento em que pegou naquela foto, a cautela passou a segundo plano. Leonor estava viva. Cada segundo perdido significava que ela continuava presa, em perigo.
Levou Lúcia para um apartamento seguro, um local que nem a maioria dos seus funcionários conhecia—com fechaduras reforçadas, câmaras e um quarto à prova de som.
“Estás segura aqui,” disse Diogo. “Ninguém te encontra. Mas preciso de tudo o que sabes—cada detalhe.”
Lúcia sentou-se à beira de uma poltrona de couro, abraçando os joelhos. “É uma mansão grande, fora da cidade. Um portão de ferro, câmaras por todo o lado. As mulheres estão na cave. Há guardas.”
A mente de Diogo entrou em modo estratégico. “Sabes a localização?”
Ela acenou. “Não é o endereço, mas lembro-me de um sinal na estrada. ‘Quinta das Fontes.’ E há um celeiro branco com telhado vermelho perto.”
Diogo fez chamadas encriptadas. “Encontrem uma propriedade perto da Quinta das Fontes, com portão privado, segurança reforçada e um celeiro. Mandem-me imagens de satélite em uma hora,” ordenou a um dos seus investigadores de confiança.
Trinta minutos depois, um mapa digital apareceu no tablet. Uma propriedade batia perfeitamente—trinta quilómetros fora da cidade, em nome de uma empresa fantasma.
Diogo ampliou a imagem. “É esta?”
Os olhos de Lúcia alargaram-se. “Sim. É ali que estão a manter ela.”
Naquela noite, Diogo chamou homens em quem confiava—ex-militares que já lhe tinham prestado serviços. Não lhes disse quem iam resgatar.
“Extracção deDiogo segurou a mão de Leonor e olhou para Lúcia, sabendo que, no meio da escuridão, a verdadeira riqueza não estava no dinheiro, mas na família que o destino lhe devolvera.