Cada manhã, às seis em ponto, Leonor percorria os majestuosos corredores da mansão Tavares, com o cabelo preso sob uma fita branca e o uniforme negro impecavelmente passado. Movia-se em silêncio, metódica, a limpar castiçais, a esfregar os pisos de mármore e a tirar o pó dos retratos de aristocratas mortos há muito tempo, que a observavam de cima como se ela não pertencesse ali.
Para os convidados —e até para alguns residentes permanentes— Leonor era invisível. Apenas uma empregada, ali para limpar a sujidade deles. Mas o que ninguém sabia —o que ela mantivera em segredo por mais de um ano— era que Leonor Almeida não era apenas uma criada. Era a verdadeira dona da mansão Tavares.
A propriedade pertencera ao seu falecido marido, Duarte Tavares III, um multimilionário solitário cuja morte súbita por ataque cardíaco chocou a alta sociedade. No testamento, ele deixou tudo a Leonor —sua esposa de apenas dois anos, vista por muitos como um capricho, um caso passageiro, um escândalo.
Para se proteger —e proteger a mansão— de parentes gananciosos e investidores traiçoeiros, Leonor manteve a herança em segredo enquanto a situação legal se resolvia. E, enquanto isso, permaneceu no único lugar onde ninguém suspeitaria encontrá-la: entre os funcionários.
**Capítulo 2: O Escárnio dos Convidados**
—Ugh, ainda está aqui? —zombou Matilde, os saltos a ressoar no chão ao entrar no hall—. Juro que fica mais lenta a cada dia.
Leonor baixou os olhos e passou suavemente o pano pelo chão.
—Cheira a lixívia e sabão barato —sussurrou Carlota com sarcasmo—. Não sabe que isto é uma mansão e não um balneário público?
As raparigas riram-se —Matilde, Carlota e Beatriz. Três meninas mimadas que haviam vivido na propriedade desde a morte de Duarte, fingindo pertencer ali e esperando herdar um pedaço da fortuna.
E depois havia Martim —alto, arrogante, sempre de fato impecável, com o olhar fixo no seu objetivo. Era um primo distante de Duarte e considerava-se o herdeiro legítimo.
—Em breve esvaziamos este lugar —sussurrou uma vez a Beatriz, sem perceber que Leonor estava na sala ao lado.
Leonor nunca respondia às provocações. Não precisava. Cada insulto, cada comentário sarcástico só a fortalecia. Porque eles não faziam ideia de quem estavam a humilhar.
**Capítulo 3: A Festa Anual de Caridade**
Tudo mudou na festa anual de caridade dos Tavares. A mansão fervilhava de emoção. Políticos poderosos, celebridades e herdeiros de antigas dinastias percorriam a entrada principal repleta de esplendor. A equipa —vestida elegantemente— corria para servir champanhe e arranjos florais.
Leonor, como sempre, usava o seu uniforme, permanecia em segundo plano e coordenava os funcionários com eficiência silenciosa.
Até que Martim decidiu torná-la o centro das atenções. No meio do salão de baile, rodeado por uma multidão curiosa, fez-lhe um gesto.
—Tens uma mancha aí —disse com um tom trocista, apontando para uma parte impecável do chão. A plateia riu-se.
Leonor anuiu educadamente e inclinou-se para limpar.
Martim sorriu com arrogância.
—Talvez devíamos cobrar entrada para a ver limpar. O que acham? Entretenimento ao vivo!
Matilde bateu palmas.
—Dêem-lhe um aumento! De invisível a quase visível.
As gargalhadas ecoaram pelo hall de mármore.
Lentamente, Leonor ergueu-se.
—Chega —disse em voz baixa, mas firme.
Martim pestanejou.
—O que disseste?
Leonor tirou o avental, dobrou-o com cuidado e colocou-o sobre uma mesa.
—Suportei a tua arrogância por muito tempo —continuou—. Insultas-me, ridicularizas-me, falas como se fosses o dono desta casa. Mas não és.
O salão ficou em silêncio.
—Estás despedido, Martim —disse, olhando-o nos olhos.
Matilde riu-se, nervosa.
—Não podes despedir ninguém, se és só uma—
—Sou Leonor Tavares —a voz dela ecoou pela sala—. A legítima herdeira e dona desta mansão.
Um murmúrio percorreu os presentes.
Martim ficou pálido.
—Isso… é impossível. O Duarte nunca—
Leonor tirou um documento dobrado do bolso e entregou-o ao convidado mais próximo —que era um advogado.
O homem folheou rapidamente o papel, arqueando as sobrancelhas.
—É autêntico. Duarte deixou toda a propriedade, incluindo todos os bens, à sua esposa Leonor.
O rosto de Martim perdeu a cor.
A um gesto de Leonor, os guardas de segurança entraram.
—Por favor, acompanhem-no e aos seus amigos para fora da propriedade.
—Mentiste-nos! —gritou Carlota, com a voz a tremer.
—Não —respondeu Leonor com calma—. Apenas deixei que mostrassem quem realmente eram.
**Capítulo 4: A Solidão da Dona**
Naquela noite, quando as luzes se apagaram e o último convidado partiu, Leonor ficou sozinha no grande salão de baile —já não como a empregada. Mas como a mulher a quem tudo pertencia.
Mas a batalha estava longe de terminar. Martim não se renderia tão facilmente.
E Leonor sabia: isto não era o fim.
**Capítulo 5: A Resistência de Martim**
Na manhã seguinte, Leonor acordou determinada a enfrentar o que viesse. Sabia que Martim tentaria recuperar o que julgava ser seu. Enquanto preparava o pequeno-almoço, ouviu uma batida na porta. Era um dos advogados da família Tavares.
—Dona Leonor, precisamos falar —disse o homem com seriedade.
Leonor levou-o à sala de estar, onde o cheiro a café acabado de fazer enchia o ar.
—Martim tem falado com alguns dos investidores da propriedade —continuou o advogado—. Está a tentar convencê-los de que não tem direito à mansão.
Leonor franziu a testa. Martim tinha ligações e tentaria usar a sua influência para minar a sua posição.
—Não posso permitir isso. Preciso de proteger a minha casa.
O advogado anuiu.
—Podemos apresentar uma ação para reafirmar o seu direito à herança, mas precisamos de provas sólidas e apoio legal.
Leonor pensou por um momento. Havia algo que podia fazer.
**Capítulo 6: A Estratégia de Leonor**
Leonor decidiu investigar o passado de Martim. Se houvesse algo que pudesse usar contra ele, encontrá-lo-ia. Passou dias a revistar documentos, a falar com antigos empregados e a procurar provas.
Uma tarde, no arquivo da mansão, encontrou uma caixa com velhas cartas e fotografias. Ao folheá-las, percebeu que muitas eram de Duarte à família, mencionando o comportamento errático de Martim.
Leonor sorriu. Tinha algo. Se provasse que Martim não era digno de confiança, enfraqueceria a sua posição.
**Capítulo 7: O Confronto**
Com as provas em mãos, Leonor convocou uma reunião com os investidores. Eles tinham dúvidas sobre a sua capacidade de gerir a mansão, e ela precisava de os convencer.
Martim chegou com a habitual arrogância, mas Leonor estava pronta. Apresentou as cartLeonor olhou pela janela, sentindo o peso da vitória e a promessa de um futuro que ela moldaria com suas próprias mãos, livre da sombra de Martim e pronta para escrever o seu próprio legado.