O sol mergulhava atrás dos túmulos de mármore enquanto António Silva ficava em silêncio, a olhar para a campa da sua mulher, Beatriz. O bilionário CEO da Silva & Filhos já tinha estado em incontáveis funerais de empregados, sócios e até rivais—mas nada se comparava ao dia em que enterrou o amor da sua vida, há dois anos.
Ou assim pensava.
O seu fato preto pesava-lhe, carregado por uma dor que nunca o abandonara. Colocou lírios brancos frescos na campa e sussurrou: “Daria tudo o que tenho só para te ver mais uma vez.”
“Talvez não tenha de dar.”
António virou-se bruscamente. A poucos metros estava uma rapariga, não teria mais de treze anos, o rosto sujo, o cabelo emaranhado e a roupa esfarrapada, pendurada no seu corpo franzino. Parecia não comer há dias.
“O que acabaste de dizer?” exigiu ele, a voz cortante.
A rapariga aproximou-se, ignorando o tom furioso. Os seus olhos azuis queimavam com uma certeza perturbadora. “A sua mulher… não está morta.”
António sentiu o peito apertar. “Isso é impossível. A Beatriz morreu num acidente de carro. Eu enterrei-a pessoalmente.”
Ela abanou lentamente a cabeça. “Não, enterrou outra pessoa. A sua mulher está viva. Eu vi-a.”
Um vento frio varreu o cemitério, mas António quase não o sentiu. Olhou para a rapariga, tentando perceber a sua expressão. Ela não sorria, não estava a brincar. A sua voz transmitia uma convicção que lhe gelou a espinha.
“Quem és tu?” António exigiu. “E que tipo de jogo é este?”
“Chamo-me Madalena,” disse ela suavemente. “Não estou a mentir. Ela está viva… e precisa da sua ajuda.”
António cerrou os punhos. “Se isto é algum esquema doentio—”
“Não é!” Madalena exclamou, a voz a falhar. “Eu sei onde ela está. Mas se eles descobrirem que lhe contei, vão magoá-la. E a mim também.”
António gelou. *Eles*?
Inspirou fundo, obrigando-se a acalmar. “Começa do princípio. Quem a tem? Onde está?”
Madalena olhou em redor, nervosa, como se as lápides tivessem ouvidos. “Aqui não. Podem estar a vigiar-nos.”
António observou as suas roupas rotas, as mãos trémulas. Ela não estava a representar. Se fosse uma vigarice, seria a mais convincente que já vira. Mas e se não fosse? E se a Beatriz estivesse mesmo viva?
“Entra no carro,” disse António, por fim. “Vamos para um lugar seguro.”
O Mercedes preto afastou-se do cemitério com um ronco suave, Madalena encolhida no banco de trás. António sentou-se ao seu lado, cada músculo tenso.
“Fala,” ordenou.
Ela engoliu em seco. “Há dois anos, o carro da sua mulher não se despenhou como disseram. Ela foi raptada. O acidente foi armado.”
O coração de António acelerou. “Raptada? Por quem?”
“Não sei os nomes,” sussurrou Madalena. “Mas são ricos. Poderosos. Mantêm-na numa mansão longe da cidade. Passa a maior parte do tempo trancada. Eu… eu estive lá uma vez.”
António inclinou-se. “Como sabes tudo isto?”
“Porque eu escapei,” disse Madalena, com lágrimas nos olhos. “Raptaram outras mulheres também. Eu devia ser uma delas. Mas fugi.”
António sentiu o ar faltar-lhe. Beatriz… viva, presa, a sofrer durante dois anos enquanto ele a chorava? A fúria acendeu-se dentro dele, fria e devoradora.
“Onde é a mansão?” exigiu.
Madalena abanou a cabeça. “Não posso simplesmente dizer-lhe. Se me virem por lá, matam-me.”
António pegou no telemóvel. “Vou contratar seguranças. Vou proteger-te.”
Mas Madalena agarrou-lhe o braço. “Nada de seguranças. Nada da polícia. Não percebe—eles têm gente em todo o lado. Se chamar a polícia, ela morre.”
A mente de António acelerou. Era um homem que comandava impérios, esmagava concorrentes e dominava mercados—mas isto? Isto era diferente.
“Porque me estás a contar isto?” perguntou.
“Porque ela salvou-me,” disse Madalena, a voz trémula. “A sua mulher… ajudou-me a fugir. Disse-me para o encontrar.”
António quase não conseguia respirar. A visão turvou-se por um instante, o rosto da Beatriz a surgir-lhe na mente—o seu sorriso, o seu riso, o modo como lhe apertava a mão.
“Tens provas?” sussurrou.
Madalena enfiou a mão no casaco roto e puxou uma fotografia amachucada. António agarrou-a, os olhos a alargarem-se.
Era a Beatriz. Mais magra, o cabelo desgrenhado—mas era ela. E nos seus olhos… aquele mesmo fogo pelo qual se apaixonara. No verso da foto, duas palavras: *Ajuda-me*.
António apertou a foto até os nós dos dedos ficarem brancos.
“Onde está ela?” A voz era baixa, mortal.
Madalena hesitou, o medo a pairar no olhar. “Se lhe disser, não há volta a dar. Vão atrás de si também.”
António inclinou-se, o queixo firme, a voz como aço.
“Então deixem vir. Porque quem raptou a minha mulher está prestes a descobrir o que acontece quando se mexe com António Silva.”
E, assim, o bilionário iniciou uma investigação que sacudiria o país até ao seu âmago.