Capítulo 1: A Sombra no Corredor
Joana Sousa tinha aperfeiçoado a arte de ser invisível ao chegar ao 11º ano na Escola Secundária do Tejo. Movia-se pelos corredores como um fantasma, cabeça baixa, ombros curvados, presença tão discreta que os professores às vezes se esqueciam de marcar-lhe a presença, mesmo quando ela estava sentada na primeira fila. Os seus casacos largos, calças de ganga gastas e o hábito de almoçar sozinha na biblioteca criaram uma armadura de anonimato que a protegia das hierarquias sociais e das crueldades do quotidiano adolescente.
Mas a invisibilidade, Joana tinha aprendido, também era um superpoder.
Da sua posição nas sombras, via tudo. Sabia quais alunos vendiam drogas atrás do pavilhão de ciências, quais professores tinham favoritismos quase inapropriados e quais dos populares escondiam distúrbios alimentares, problemas familiares ou dificuldades académicas por trás das suas fachadas perfeitas. O mais importante: documentara metodicamente o reinado de terror de Marco “Tanque” Rodrigues, o capitão da equipJoana sorriu ao ver os colegas rirem sem medo nos corredores, sabendo que finalmente, a justiça tinha vencido.





