Todos na sala de reuniões ficaram em silêncio quando Diogo Vale, o bilionário CEO da ValeTech, recostou-se na sua cadeira de couro, sorriu com arrogância e disse: “Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta.” As palavras pairaram no ar como um desafio, uma provocação ou, quem sabe, uma confissão disfarçada de soberba.
Os homens e mulheres ao redor da mesa olharam para ele, sem saber se brincava. Afinal, Diogo Vale não era conhecido por sentimentalismos. Era famoso pelos números, por aquisições implacáveis e por ser o mais jovem bilionário da tecnologia em Lisboa. Amor, romance, ou até mesmo relacionamentos não pareciam fazer parte da sua vida brilhante e calculista.
Mas agora ele dissera aquilo. E ninguém ousou rir.
Diogo odiava casamentos. Acabara de voltar do casamento extravagante do irmão mais novo na região do Douro, onde o amor fora exibido como um troféu e os convidados brindaram ao “para sempre” como se fosse uma marca de vinho.
Detestava como todos olhavam para ele, perguntando quando seria a sua vez — como se o casamento fosse um marco obrigatório do qual ele estivesse atrasado. Como se um anel no dedo completasse alguém.
Ele revirou os olhos o tempo todo, zombou da cerimónia e voltou para casa com um desgosto ainda maior por qualquer coisa que cheirasse a compromisso.
Por isso, quando o seu assistente executivo, Tomás, gozou dizendo que ele nunca se estabeleceria porque tinha “medo de conexão real”, Diogo reagiu.
“Está bem,” disse. “Vou provar que isso tudo é absurdo.”
“Como, exatamente?” perguntou Tomás.
“Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta,” declarou, apontando para a entrada de vidro da sala de reuniões.
Um murmúrio de incredulidade percorreu a sala.
“Estás a falar a sério?” perguntou Joana, a chefe de marketing.
“Morto a sério,” respondeu Diogo. “Ela entra, conversamos, eu proponho. É simples assim. O amor é uma transação comercial. Nada mais. Assino os papéis, uso a aliança, sorrio para as câmaras. Vamos ver quanto dura.”
Todos o encararam, uma mistura de choque e desconforto nos rostos. Mas Diogo não vacilou. Ele falava a sério — ou pelo menos achava que sim.
Fora da sala, passos ecoaram pelo corredor.
Alguém se aproximava. A equipa virou-se nas cadeiras, à espera de ver quem o destino — ou a loucura — escolheria.
Então a porta abriu.
E Diogo congelou.
Ela não era o que ele esperava.
Na verdade, nem sequer devia estar ali.
Não usava marcas de designer nem um blazer formal. Vestia jeans, uma t-shirt cinzenta com o logótipo desbotado de uma livraria e trazia nas mãos um monte de correspondência entregue por engano.
O cabelo estava preso num rabo-de-cavalo desalinhado, desarrumado pelo calor do verão, e os olhos arregalaram-se quando parou, confusa com toda a atenção voltada para ela.
“Acho que isto foi entregue no andar errado,” disse, erguendo as cartas. “Eu trabalho no—”
“Quem és tu?” cortou Diogo, levantando-se da cadeira.
Ela pestanejou. “Sou… a Inês. Inês Leal. Trabalho no café do 5º andar.”
Risos abafados percorreram a sala, mas Diogo não riu. Nem sequer pestanejou.
O coração, que normalmente só batia por eficiência, falhou uma batida.
Porque havia algo nela. Algo completamente fora do lugar no seu mundo planeado de metas trimestrais e projeções anuais.
Devia ter-se rido, chamado àquilo tudo uma brincadeira, mas as palavras que dissera — “Vou casar com a primeira mulher que entrar por aquela porta” — ecoavam nele como um desafio do universo.
E, pela primeira vez em muito tempo, não soube o que dizer.
Inês, ainda mais confusa, ergueu uma sobrancelha. “Isto é… algum tipo de reunião?”
“Sim,” respondeu Diogo, recuperando o controle. “Sim, é. E acabas de fazer parte dela.”
De volta ao escritório, Diogo reviu a cena na cabeça. Não conseguia parar de pensar nela — na maneira como inclinara a cabeça com curiosidade, na sua honestidade, na completa ignorância sobre quem ele era.
“Não acredito que vais fazer isto,” disse Tomás, entrando atrás dele.
“Disse que faria,” respondeu Diogo.
“Ela é uma barista, Diogo.”
“É uma mulher. Era só isso que importava, lembras-te?”
“Mas ficaste parado. Hesitaste.”
“Não a esperava, só isso.”
“Então, vais mesmo pedi-la em casamento?”
Diogo olhou para o horizonte de Lisboa, a expressão impenetrável. “Sim. Vou.”
E assim, o homem que achava o amor uma piada começou a planear um pedido de casamento — a uma estranha que entrara por engano.
Mas ele não sabia que Inês Leal não era apenas uma barista.
E muito menos sabia o que ela escondia.
Diogo Vale, bilionário da tecnologia, anunciara num momento de arrogância que casaria com a primeira mulher que entrasse na sala. Quando essa mulher se revelou ser Inês Leal — uma barista discreta que entregara correspondência errada —, ele ficou inexplicavelmente perturbado. Mas fizera uma promessa, e agora ia cumpri-la. O que não sabia era… Inês Leal não era quem dizia ser.
Dois dias depois, Diogo parou à porta do café no 5º andar do prédio que ele próprio possuía — um lugar onde nunca pusera os pés até então. Uma dúzia de estagiários curiosos olhou para ele quando entrou, alguns fingindo não reparar, outros sussurrando atrás dos telemóveis.
Atrás do balcão, Inês limpava a máquina de café, o cabelo preso, cantarolando baixinho.
Ele pigarreou.
Ela olhou para cima, surpresa. “Oh. És tu outra vez.”
“Eu outra vez,” respondeu, sorrindo.
“Ainda a transformar aquela reunião numa novela dramática?”
“Na verdade,” disse, tirando uma caixinha de veludo do bolso, “vim perguntar se casas comigo.”
Inês fitou-o.
Depois explodiu em risos. “Estás a falar a sério?”
“Tão sério como quando disse que o faria.”
“Isso é… completamente insano.”
“Eu sei,” admitiu. “Mas é do bom.”
Ela inclinou-se para a frente no balcão, o rosto suavizando-se. “Olha, não sei que jogo estás a jogar, Sr. CEO. Talvez estejas aborrecido, ou queiras provar algo. Mas não sou um objeto em alguma aposta.”
“Não é uma aposta,” retorquiu Diogo. “É… uma declaração. Um salto. E quero que dês esse salto comigo.”
Ela hesitou. “Não sabes nada sobre mim.”
“Então deixa-me descobrir.”
Três semanas depois, Diogo e Inês casaram-se legalmente numa cerimónia simples no terraço da sede da ValeTech. Foi tudo muito rápido. As manchetes explodiram: “Magnata da Tecnologia Casa-se com Misteriosa Barista.” Os comentadores riram-se. Os analistas especularam. E Diogo Vale? Sorriu para as câmaras, segurou a mão dela e agiu como se tudo tivesse sido planeado desde o início.
Mas nos bastidores, algo se desfazia.
Porque Inês não era quem parecia.
O seu nome verdadeiro não era Inês Leal. Era Ana Monteiro — uma antiga jornalista investigativa que desaparecera do olhar público depoisAgora, vivendo numa pequena vila alentejana longe dos holofotes, os dois descobriram que o acaso às vezes escreve os melhores finais.