**Diário de um Policial**
O telefone tocou na esquadra e cortou-se tão de repente como começara.
— Socorro, os meus pais… eles estão… — a voz infantil mal conseguiu soltar as palavras antes de ser interrompida.
— Com quem estás a falar? Dá cá o telefone! — ouviu-se um homem a gritar. Depois, silêncio.
Eu e a minha colega trocámos um olhar. Por protocolo, tínhamos de investigar, mesmo que fosse um engano. Mas havia algo na voz do miúdo — o medo contido, o tremor — que nos deixou mais alerta do que o normal.
O carro parou em frente a uma casa de dois andares, num bairro tranquilo de Lisboa. Por fora, tudo parecia normal: um jardim bem cuidado, vasos de flores, a porta fechada. Mas dentro reinava um silêncio estranho.
Bati à porta. Nada. Depois de alguns segundos, abriram. Era um miúdo de sete anos, cabelo escuro, roupa limpa, mas com um olhar sério, quase de adulto.
— Foste tu que nos ligaste? — perguntei, baixinho.
Ele anuiu, afastou-se para nos deixar entrar e murmurou:
— Os meus pais… estão ali. — Apontou para um quarto ao fundo do corredor, a porta entreaberta.
— O que se passa? A tua mãe e o teu pai estão bem? — insisti, mas ele não respondeu. Ficou encostado à parede, os olhos fixos naquela porta.
Fui o primeiro a entrar. A minha colega ficou com o miúdo. Quando empurrei a porta e olhei para dentro, o coração quase parou…
No chão, estavam um homem e uma mulher — os pais do miúdo — com as mãos amarradas por braçadeiras plásticas e a boca tapada com fita adesiva. Os olhos, cheios de terror. Acima deles, um homem de capuz segurava uma faca.
Ele congelou ao ver-me. A lâmina tremeu-lhe na mão. Claramente, não esperava que a polícia chegasse tão rápido.
— Polícia! Larga a faca! — gritei, puxando da arma. A minha colega já puxava o miúdo para trás, protegendo-o.
— Para baixo! — repeti, avançando.
Os segundos pareceram eternos. Até que, de repente, o homem soltou um suspiro áspero. A faca caiu no chão com um baque surdo.
Quando o levámos algemado, a minha colega libertou os pais. A mãe apertou o filho com tanta força que ele mal conseguia respirar. Olhei para o miúdo e disse:
— Foste muito corajoso. Se não fosse a tua chamada, isto podia ter acabado mal.
Só depois percebemos: o criminoso ignorou o miúdo, achando-o pequeno demais para ser uma ameaça. E foi esse o seu erro.
**Lição do dia:** Nunca subestimes o instinto de uma criança. Por vezes, os mais pequenos são os que mais enxergam.