Desenho do Meu Filho Levou a uma Investigação Surpreendente

No início, pensei que fosse apenas um momento inocente e terno.

O meu filho de seis anos, Rodrigo, andava obcecado por desenhar ultimamente—dinossauros com garras enormes, batalhas de robôs, dragões com olhos saltados. As suas pequenas mãos estavam sempre marcadas de cera ou tinta, e havia folhas espalhadas por toda a casa. Mas naquele dia, algo era diferente.

Ele saiu a correr do quarto segurando um desenho. “Mãe! Fiz isto para o polícia!” anunciou, com os olhos brilhantes de excitação.

Olhei para o desenho. “Que bonito, querido. Qual polícia?”

“Sabes,” ele respondeu, encolhendo os ombros, “aquele que acena. O que dá os autocolantes brilhantes.”

Tinha de ser o Agente Silva. Ele patrulhava regularmente o nosso bairro—um homem simpático, de olhar sereno e um sorriso tranquilo. De vez em quando, o seu carro passava pela nossa rua, e ele acenava às crianças, distribuía distintivos de “agente júnior” e conversava com os pais sobre segurança. O Rodrigo era normalmente tímido perto dele, mas algo tinha mudado.

Minutos depois, como previsto, um carro da polícia apareceu na rua. O Agente Silva abrandou ao passar, acenando com um gesto amigável.

Rodrigo disparou para o passeio, agarrado ao desenho. “Espere! Fiz uma coisa para si!”

O carro parou suavemente. O Agente Silva saiu com uma risada. “Olá, miúdo! O que tens aí?”

Fiquei na varanda, observando com um sorriso. O Rodrigo era calado, até com adultos conhecidos. Mas agora, parecia orgulhoso.

“Desenhei-o,” disse Rodrigo, erguendo o papel.

O Agente Silva ajoelhou-se à altura dele, aceitando o desenho com um caloroso “obrigado”. Observou-o atentamente enquanto Rodrigo explicava.

“Aquela é a nossa casa. O senhor está no carro. E aquela é a senhora que me acena,” ele apontou.

Enregelou-me. O quê?

“Que senhora?” perguntou o agente, com suavidade, olhando para mim por cima do ombro.

Rodrigo apontou para o canto do papel. “A da janela. Ela sempre acena. Mora na casa azul ao lado.”

A casa azul.

O meu sorriso desvaneceu-se. Aquela casa estava vazia há meses. Os Teixeiras tinham-se mudado no início do ano. O letreiro imobiliário ainda lá estava, torto no jardim, com um “À VENDA” já desbotado.

Aproximei-me, confusa. “Rodrigo, o que estás a dizer? Aquela casa está vazia.”

Ele encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. “Mas ela está lá. Tem cabelo comprido. Às vezes parece triste.”

O Agente Silva levantou-se devagar, estudando novamente o desenho. “Importas-te se eu ficar com isto?” perguntou ao Rodrigo.

Ele anuiu. “Claro! Tenho mais lá em casa.”

O agente sorriu, mas notei uma ligeira mudança no seu tom. “Obrigado, miúdo. Vou pendurar isto na esquadra.”

Ao voltar para o carro, olhou mais uma vez para a casa azul.

Nessa noite, pouco depois de deitar o Rodrigo, bateram à porta.

O Agente Silva estava lá, com uma expressão mais séria. “Minha senhora, desculpe incomodar. Posso falar consigo um momento?”

“Claro. Há algum problema?”

Ele entrou e baixou a voz. “Fiz uma vistoria na casa ao lado. Um pressentimento. A porta dos fundos estava arrombada. A fechadura partida, quase a cair.”

O meu estômago apertou-se. “Acha que alguém está lá dentro?”

“Pode ser. Um sem-abrigo, talvez. Ou alguém a esconder-se. A central disse que a casa devia estar vazia—ainda não foi vendida. Mas o desenho do seu filho chamou-me a atenção. Veja.”

Mostrou-me novamente o desenho, apontando para a janela do primeiro andar. Lá, com uma clareza impressionante para uma criança, estava uma figura vermelha—feminina, de cabelo comprido e uma mão erguida num aceno.

“Isso não é só rabiscos,” ele disse. “É intencional.”

A minha mente acelerou. “Acha que ele realmente viu alguém?”

“As crianças percebem coisas que nós não vemos. Principalmente quando não estão à procura de nada. Vou pedir reforços esta noite, em silêncio. Sem luzes, sem sirenes. Depois digo-lhe o que encontrarmos.”

Acenei, os olhos a vaguearem para as janelas escuras da casa azul. Eu julgara que era só mais uma casa abandonada. Mas agora… não tinha tanta certeza.

Aquela noite foi agitada. Cada rangido da casa fez o meu coração saltar. Por volta da meia-noite, ouvi o som de pneus no cascalho. Pelas persianas, vi o feixe de uma lanterna a percorrer o jardim.

Depois—vozes. Baixas. Urgentes.

E depois um grito: “Apanhámos alguém!”

Corri para a janela a tempo de ver dois agentes a saírem com uma mulher. Ela parecia jovem. Magra, com roupas rasgadas e os pés descalços. O rosto marcado, os olhos assustados. Não lutou—movia-se como se não visse a luz do dia há semanas.

O meu coração batia forte.

Na manhã seguinte, o Agente Silva voltou.

“Ela está segura,” disse, suave. “Chama-se Mariana. Estava desaparecida há mais de um mês. De uma cidade a duas horas daqui.”

“O que estava ela a fazer aqui?”

“Escondida,” respondeu. “Fugira de uma situação má. Um homem em quem pensara poder confiar. Quando escapou, acabou neste bairro e encontrou a porta dos fundos daquela casa aberta. Viveu no sótão. Com medo de sair. Sem telemóvel. Sem comida, excepto o que conseguia tirar dos caixotes.”

“Meu Deus,” murmurei.

“Mas disse-nos uma coisa,” continuou, com os olhos a brilhar. “Disse que havia um menino no jardim ao lado. Que ele desenhava todos os dias. Que parecia feliz. E que às vezes… acenava para a casa. Disse que a fazia sentir vista. Como se o mundo talvez não fosse só coisas más.”

Os meus olhos encheram-se de lágrimas.

“Ela só espreitava um instante por dia,” acrescentou. “Mas o seu filho… reparou. Nem sequer percebeu. Mas viu-a.”

Naquela tarde, a detective responsável pelo caso visitou-nos. Agradeceu-nos pelo desenho,

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