“—Estás a brincar comigo —disse Mariana, olhando para João Carvalho com os olhos muito abertos.
Ele abanou a cabeça:
—Não, não estou a brincar. Mas dou-te tempo para pensar. Porque a proposta não é nada comum. Até suspeito do que estás a pensar agora. Pensa bem, reflete… volto dentro de uma semana.
Mariana ficou a olhar para ele, desconcertada. As palavras que acabara de ouvir não faziam sentido na sua cabeça.
Conhecia João Carvalho há três anos. Ele tinha uma cadeia de bombas de gasolina e outros negócios. E numa dessas bombas, Mariana trabalhava como empregada de limpeza. Sempre cumprimentava o pessoal com simpatia e falava com cordialidade. No geral, era boa pessoa.
O salário na bomba de gasolina era decente e havia muita gente interessada em trabalhar ali. Há uns dois meses, depois de limpar, Mariana estava sentada lá fora: o turno estava quase a acabar e ainda havia algum tempo livre.
De repente, a porta do acesso dos funcionários abriu-se e apareceu João Carvalho.
—Posso sentar-me?
Mariana levantou-se de um salto:
—Claro! Por que pergunta?
—E por que te levantaste assim? Senta, não mordo. Hoje é um dia bonito.
Ela sorriu e sentou-se novamente.
—Sim, na primavera parece que o tempo está sempre bom.
—É porque já estamos todos cansados do inverno.
—Talvez tenha razão.
—Sempre quis perguntar-te: por que trabalhas como limpadora? A Ana tinha-te oferecido passar a operadora. Melhor salário, trabalho mais fácil.
—Adorava, mas não posso por causa do horário —a minha filha é pequena e fica doente. Tudo corre bem se a vizinha a tomar conta, mas quando há algum surto, tenho de estar por perto. Por isso, revezamo-nos com a Ana quando é preciso. Ela ajuda sempre.
—Compreendo… E o que se passa com a menina?
—Ai, nem pergunte… Os médicos nem sequer entendem bem. Ela tem ataques, não consegue respirar, pânico, muitas coisas. E os exames são sérios e caros. Dizem que é esperar, que talvez passe com a idade. Mas eu não posso esperar…
—Bem, aguenta. Tudo vai correr bem.
Mariana agradeceu. E à noite soube que João Carvalho lhe tinha dado um bónus —sem explicações, simplesmente entregou-lhe.
Depois disso, não o viu mais. E hoje, de repente, apareceu em sua casa.
Quando Mariana o viu, o coração quase parou. E quando ouviu a proposta, sentiu-se ainda pior.
João Carvalho tinha um filho: Ricardo, de quase trinta anos. Sete desses anos passou-os numa cadeira de rodas depois de um acidente. Os médicos fizeram tudo, mas nunca voltou a andar. Depressão, isolamento, quase uma rejeição total à comunicação —até com o pai.
E então, a João Carvalho ocorreu-lhe a ideia: casar o filho. A sério. Para que ele tivesse um propósito, vontade de viver, de lutar. Não tinha certeza de que funcionasse, mas decidiu tentar. E achou que Mariana era a pessoa ideal para esse papel.
—Mariana, viverás com todo o conforto. Terás tudo. A tua filha fará todos os exames e tratamentos. Proponho um contrato de um ano. Dentro de um ano, vais embora, aconteça o que acontecer. Se o Ricardo melhorar, ótimo. Se não, serás generosamente recompensada.
Mariana não conseguia falar: a indignação invadiu-a.
João Carvalho, como se lesse os seus pensamentos, disse suavemente:
—Mariana, peço-te, ajuda-me. Isto é benéfico para ambos. Nem sequer tenho certeza de que o meu filho se aproxime de ti. Mas para ti será mais fácil: estarás numa posição respeitável, legalmente casada. Imagina que casas não por amor, mas pelas circunstâncias. Só te peço: desta conversa, não digas nada a ninguém.
—Espere, João Carvalho… E o seu Ricardo? Ele concorda?
O homem sorriu com tristeza:
—Diz que lhe é indiferente. Eu direi que tenho problemas —com o negócio, com a saúde… O importante é que case. A sério. Sempre confiou em mim. Então isto… é uma mentira para o bem.
João Carvalho foi-se embora, e Mariana ficou sentada, paralisada. Por dentro, fervia a indignação. Mas as palavras diretas e sinceras dele suavizaram um pouco a crueldade da proposta.
E se pensasse bem… o que não faria por Sara?
Tudo.
E ele? Também é pai. Também ama o filho.
Ainda não tinha acabado o turno quando o telefone tocou:
—Mariana, rápido! A Sara está a ter um ataque! Muito forte!
—Já vou! Chamem a ambulância!
Chegou a tempo de ver a ambulância parar à porta.
—Onde estava, mãe? —perguntou o médico com severidade.
—Estava a trabalhar…
O ataque estava realmente grave.
—Talvez ao hospital? —perguntou Mariana timidamente.
O médico, que era novo, abanou a mão cansado:
—Para quê? Lá não a vão ajudar. Só vão piorar os nervos da menina. Oxalá pudessem ir à capital —a uma boa clínica, com especialistas a sério.
Passados quarenta minutos, os médicos foram-se embora.
Mariana pegou no telefone e ligou a João Carvalho:
—Aceito. A Sara teve outro ataque.
No dia seguinte, partiram.
João Carvalho veio pessoalmente, acompanhado de um jovem bem barbeado.
—Mariana, leva apenas o essencial. O resto compramos.
Ela anuiu.
Sara olhava com curiosidade para o carro —grande e reluzente.
João Carvalho agachou-se à frente dela:
—Gostas?
—Muito!
—Queres sentar à frente? Assim vês tudo.
—Pode ser? Quero muito!
A menina olhou para a mãe.
—Se a polícia vir, multam —disse Mariana com severidade.
João Carvalho riu-se e abriu a porta:
—Entra, Sara! E se alguém quiser multar-nos, nós é que lhes vamos multar!
À medida que se aproximavam da casa, Mariana ficava mais nervosa.
«Meu Deus, porque aceitei? E se ele for estranho, agressivo…?»
João Carvalho reparou na sua inquietação…
—Mariana, acalme-se. Falta ainda uma semana para o casamento. A qualquer momento pode mudar de ideias. E além disso… O Ricardo é um bom rapaz, inteligente, mas dentro dele algo se partiu. Vai entender.
Mariana saiu do carro, ajudou a filha a descer e de repente parou, olhando para a casa. Não era um edifício: era um verdadeiro palácio. E Sara, sem se conter, gritou com alegria:
—Mãe, agora vamos viver como num conto de fadas!
João Carvalho soltou uma gargalhada, levantou a menina ao colo:
—Gostas?
—Muito!
Até ao casamento, Mariana e Ricardo viram-se apenas algumas vezes, em jantares. O rapaz quase não comia, quase não falava. Estava sentado à mesa, como se o corpo ali estivesse mas a mente noutro lugar. Mariana observava-o com cautela. Era bonito, mas pálido, como se não visse o sol há muito tempo. Sentia que, tal como ela, vivia com dor. E agradecia por ele nunca tocar no assunto do casamento iminente.
O dia do casamento parecia ter cem pessoas a rodopiarem à volta de Mariana. O vestido chegou literalmente na véspera. Quando o viu, caiu numa cadeira:
—Quanto terá custado isto?
JoãoJoão Carvalho sorriu e disse: “Mariana, o preço não importa, o que importa é que hoje começamos uma nova vida juntos, e a Sara e tu merecem toda a felicidade do mundo.”.