A festa estava a todo vapor. Risoes ecoavam pelas varandas de pedra da quinta à beira-mar na costa algarvia, onde o oceano Atlântico se estendia infinitamente, suas águas azuis brilhando sob o sol dourado. Convidados elegantes em fatos e vestidos luxuosos circulavam pela piscina infinita, taças de espumante reluzindo como diamantes. Garçons deslizavam com precisão pelos mármores polidos, bandejas prateadas oferecendo iguarias à multidão cintilante.
João Mendonça, o magnata português mais poderoso do setor naval, estava no centro de tudo, sorridente. Aquele dia marcava o ápice de meses de negociações — uma fusão que dominara os noticiários económicos. Uma nova frota, um novo acordo, e um novo capítulo no comércio global tinham sido assinados aquela manhã. O mundo observava, e João era o homem por trás de tudo.
Mas no meio da opulência e do tilintar das taças, ninguém reparou na pequena figura que se aproximava perigosamente da borda da piscina.
Maria Mendonça tinha seis anos, uma menina frágil num vestido cor-de-rosa que balançava suavemente pelos joelhos. Segurava os restos de um pastel de nata numa mão pequena, os olhos castanhos a vasculhar a multidão em busca do pai. Mas João estava perdido num turbilhão de apertos de mão e brindes, completamente alheio à presença da filha no mármore escorregadio.
O vestido de Maria estava molhado de uma bebida derramada, colado às pernas enquanto ela esticava a mão em direção a uma pétala que flutuava na água. Um pequeno passo, depois outro — até que, de repente, o pé escorregou. Um suspiro suave, um mergulho, e depois silêncio.
A música continuou. As risadas também. As taças tilintaram.
Ninguém se mexeu.
Nem os seguranças parados ali perto, nem os assistentes ocupados com os telemóveis, nem os executivos ou as socialites com penteados impecáveis e saltos brilhantes. Algumas senhoras soltaram um suspiro, mas a multidão ficou paralisada, a observar o tecido rosa do vestido de Maria desaparecer sob a água.
Os segundos alongaram-se numa eternidade.
Depois, outro mergulho — mais alto, mais decidido.
Uma figura pequena disparou pelo mármore, braços a bombear, pés descalços. O Tiago, filho da empregada angolana, Romana, surgiu detrás do bufê e atirou-se à piscina sem hesitar.
Vestido com uma camisola branca demasiado grande e calções azuis gastos, Tiago não pensou duas vezes. A mãe pedira para sair mais cedo depois de um turno exaustivo, mas o gerente recusara. Ele esperara nos aposentos da equipa, aborrecido, até ver a menina cair.
Agora, era o único a agir.
Debaixo d’água, debater-se-ia com os braços, os olhos a arder enquanto procurava às cegas até tocar nos cachos macios da menina. Agarrou-a pela cintura e forçou-se a subir, os pulmões a gritar por ar.
Quando emergiram, Maria tossiu fracamente, ofegante. A multidão, ainda paralisada, soluçou com ela — mas ninguém saltou para ajudar. Nenhuma corda foi lançada. Nenhuma mão estendida.
Tiago lutou para manter a cabeça dela fora d’água, trémulo e a tossir, arrastando-se em direção aos degraus.
Maria engasgou-se, os dedinhos agarrados ao braço dele como se fosse a única coisa real no mundo.
Finalmente, Tiago alcançou a parte mais rasa. Empurrou Maria para cima. Ela rastejou para fora, a tossir. Tiago caiu atrás dela, o peito a arfar.
Só então o silêncio se quebrou de verdade.
“Maria!” A voz de João trovejou enquanto abria caminho pelo meio da multidão, a taça de vinho a espatifar-se no chão.
Mas a primeira expressão no rosto dele não foi alívio.
Era horror — não pelo perigo que a filha correra, mas por quem a tocara.
Sussurros começaram a espalhar-se entre os convidados.
“Não é o filho da empregada?”
“Saltou como um cão vadio.”
“Naquela camisola suja, tocou-lhe?”
Maria, alheia à tensão, estendeu a mão para Tiago. Mas João afastou-a.
“Não agora, minha querida,” disse, envolvendo-a numa toalha.
Os olhos dele encontraram os de Tiago — frios, calculistas, sem um traço de gratidão.