Levei minha esposa ao hospital, e o médico me disse algo chocante.

O hospital estava cheio naquela manhã, com pessoas a preencher papéis e a aguardar em filas. A minha mulher, Ana Sofia Mendes, estava marcada para análises ao sangue e à urina. Quando entrou na sala de exames, fiquei do lado de fora. O meu coração batia descompassado, sem entender porque me sentia tão nervoso naquele dia.

Cerca de dez minutos depois, o médico de serviço — um homem de meia-idade com feições serenas — saiu e chamou-me. Levantei-me rapidamente, pensando que precisaria de mais informações sobre o histórico de saúde da Ana. Mas, de repente, ele aproximou-se, baixou a voz e sussurrou ao meu ouvido:

“Senhor… chame a polícia. Imediatamente.”

Fiquei paralisado. Mil perguntas explodiram na minha cabeça. Chamar a polícia? Isso significava que não se tratava apenas de uma doença? Gaguejei:
“Doutor… o que se passa?”

O seu olhar grave e intenso atravessou-me:

“Mantenha a calma. A sua mulher está segura por agora, mas os resultados das análises e certos sinais no corpo dela levam-nos a suspeitar… que foi vítima de um envenenamento gradual. Isto é um caso para as autoridades. Não a podemos deixar sair antes da polícia chegar.”

As minhas pernas fraquejaram. O coração doía, e a mente girava sem controlo. Vítima? Como é que tudo isto podia ter acontecido sem eu dar por nada?

O médico pousou uma mão no meu ombro e disse, em voz baixa:

“Você é o marido dela, mas, para a proteger, tem de manter a calma. Não lhe diga nada ainda. Precisamos de tempo até as autoridades chegarem.”

De mãos trémulas, liguei para a PSP. A voz falhou-me enquanto explicava, em poucas palavras, o que o médico me dissera. A operadora tranquilizou-me:
“Fique tranquilo, a viatura já está a caminho.”

Dez minutos depois, dois agentes entraram no hospital. Falaram com o médico e pediram-me para esperar no corredor. Olhei para a porta fechada, como se o tempo tivesse parado. Mil pensamentos cruzavam-se: quem poderia ter feito mal à Ana? Como é que eu não reparei?

Finalmente, os agentes chamaram-me. A Ana estava ali, pálida, com lágrimas nos olhos. Evitava olhar para mim. O médico suspirou e explicou, com suavidade:

“Durante o exame, detetámos alterações no seu corpo que não são compatíveis com uma doença comum. São resultado de um envenenamento lento com uma substância nociva. Por isso pedi que chamassem a polícia.”

Fiquei sem palavras. A mente em branco, apenas um nó na garganta. Peguei na mão dela, trémulo, e perguntei:
“Quem te fez isto?”

Ela desatou a chorar:

“Não tenho a certeza… mas ultimamente, sempre que bebia o copo de água deixado na cozinha, sentia tonturas e enjoos. Pensei que fosse cansaço. Não queria preocupar-te… Nunca imaginei…”

As minhas lágrimas rolaram sem controlo. Senti raiva, impotência, mas, mais que tudo, uma dor profunda. A pessoa que partilhava a minha vida estava a sofrer, e eu não tinha visto. A polícia anotou tudo, pediu para recolher objetos de casa como prova e iniciou a investigação.

Naquele dia, percebi que a vida da Ana tinha sido salva graças à atenção e responsabilidade daquele médico. Sem aquele sussurro, talvez nunca descobrisse a verdade. Apertei-lhe a mão e disse:
“Descansa. Enquanto eu estiver aqui, ninguém te voltará a magoar.”

Nos dias seguintes, ela começou a desintoxicação. Estava muito fraca, mas, pouco a pouco, a visão melhorava. A polícia trabalhava sem descanso para encontrar o culpado. Eu passava noites em claro, entre a preocupação e a esperança de que tudo se resolvesse.

Uma noite, ao lado da sua cama, ela pegou na minha mão, com os olhos cheios de lágrimas:
“Obrigada… se não tivesses insistido para eu vir, talvez já não estivesse aqui.”

Abracei-a com força, contendo a emoção:
“Não, foi o médico que te salvou. Mas prometo-te que nunca mais vais enfrentar nada sozinha.”

Naquela sala branca, com o som ritmado das máquinas a monitorizar o coração dela, senti uma paz estranha. Sabia que ainda havia obstáculos pela frente, mas também tinha a certeza de que, enquanto estivéssemos juntos, nada nos derrubaria.

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