Mãe e Recém-Nascido Impedidos de Embarcar Encontram Ajuda em Senhora Idosa

Estava atrasado. Tinha acabado de receber uma chamada de um hospital noutra cidade, a dizer-me que uma menina acabara de nascer e que eu estava registado como o pai.

Se não soubesse que a minha mulher estava por aquelas bandas num pequeno descanso que eu lhe organizei enquanto renovava a casa — surpresa minha —, até pensaria que era uma brincadeira de mau gosto.

Nós não tínhamos filhos biológicos e já tínhamos adotado três, porque sempre quisemos ajudar crianças que precisassem de um lar. Era por isso que estava a reformar a casa: para ter mais espaço.

Eu, especialmente, tinha um fraquinho por acolher crianças, pois também fui criado numa família de acolhimento. Cresci a prometer-me que um dia ajudaria o máximo de crianças possível.

“Se puder ajudá-las a crescer e a serem a melhor versão de si mesmas, acho que estarei a fazer a diferença”, disse eu à minha mulher numa das nossas conversas.

Já tinha dois filhos crescidos do meu primeiro casamento com a Sofia. Separámo-nos depois de ela me trair com o jardineiro — e ser apanhada em flagrante.

Dois anos depois, conheci a minha segunda mulher, a Beatriz. Namorámos uns meses e casámo-nos. Tentámos ter filhos, mas não conseguimos, o que só fez com que adotássemos ainda mais depressa. Mas nunca desistimos da ideia de ter um bebé nosso.

Até que, um dia, a persistência deu frutos: a Beatriz engravidou. Foi aí que decidi ampliar a casa — mais um quarto, um berçário, tudo a postos.

Para a surpreender, meti a Beatriz, já de oito meses, num avião para um sítio que ela sempre quis visitar. Mal chegou, entrou em trabalho de parto e foi levada para o hospital.

Infelizmente, não sobreviveu ao parto. Disseram-me que, como o bebé acabara de nascer, eu devia ir buscá-lo rapidamente. Fiz as malas e embarquei no primeiro voo.

Ao aterrar, aluguei um carro e corri para o hospital onde a minha mulher supostamente tinha morrido.

A dor da perda ainda me corroía, mas sabia que haveria tempo para o luto mais tarde. Naquele momento, o importante era trazer a nossa filha para casa.

No hospital, fui recebido por uma voluntária da unidade de cuidados intensivos, uma senhora de 82 anos, recentemente viúva.

Chamava-se Margarida e tinha muito para me dizer. “O que aconteceu?”, perguntei assim que entrei no seu gabinete.

“Sente-se, jovem”, disse ela com calma.

“Prefiro ficar de pé”, respondi.

“Lamento muito a sua perda. A sua mulher teve complicações durante o parto.”

Desfiz-me em lágrimas, e a Margarida deixou-me chorar em paz. Passados uns minutos, tossiu levemente e falou.

“Pelo que percebi, veio buscar a criança, mas preciso de ter a certeza de que tem condições para cuidar dela.”

Expliquei-lhe que já era pai, e ela acenou, satisfeita, como quem diz: “Está à altura.” Mesmo assim, deixou-me o seu número.

“Ligue se precisar de algo”, disse. A bondosa senhora ainda me ofereceu boleia para o aeroporto no dia da partida.

Tudo correu bem até chegar a hora de embarcar. Quando cheguei ao balcão, a funcionária barrou-me a passagem.

“Esta menina é sua, senhor?”, perguntou.

“Claro que é”, respondi.

“Peço desculpa, mas parece muito nova para viajar de avião. Quantos dias tem?”

“Quatro. Posso passar?”, retorqui, impaciente.

“Lamento, mas terá de apresentar a certidão de nascimento e esperar que ela complete pelo menos sete dias antes de viajar”, disse ela, firme.

“O quê?”, revirei os olhos. “Quer dizer que tenho de ficar por aqui mais dias? Não tenho família aqui nem onde ficar! Preciso de ir para casa hoje!”

“Lamento, são as regras”, respondeu, virando-se para o próximo passageiro.

Percebi que conseguir o documento ia demorar, mas não tinha onde ficar nem a quem pedir ajuda.

Estava quase a resignar-me a dormir no aeroporto quando me lembrei da Margarida. Não queria incomodá-la, mas a noite aproximava-se e não tinha alternativa.

“Olá, Margarida”, disse. “Preciso da sua ajuda.”

Quando soube do meu problema, ela prometeu voltar ao aeroporto para nos levar para casa dela. Fiquei boquiaberto. Será que eu faria o mesmo no lugar dela?

“A bondade ainda existe neste mundo”, pensei.

Acabei por ficar em casa da Margarida mais de uma semana. Ela não só nos acolheu como me ajudou a lidar com a morte da Beatriz e com os desafios de um recém-nascido. Falávamos muito, e ela confortou-me. Até me ajudou a tratar do traslado do corpo da minha mulher, simplificando tudo.

Era tão generosa que eu a chamava de “anjo”. Até a minha filha parecia adorá-la — ficava toda contente só de ouvir a sua voz.

Durante aqueles dias, soube que ela tinha quatro filhos, sete netos e três bisnetos.

Cuidámos do bebé juntos, demos passeios para desanuviar e até fomos homenagear o marido falecido dela. Tudo isso nos aproximou ainda mais.

Via nela a minha mãe, que já partira há muito tempo, e sabia que a ia sentir falta quando regressasse a casa.

Assim que tive a certidão de nascimento, pude finalmente embarcar, mas mantive contacto com a Margarida. Nunca me esqueci da sua bondade.

Ano após ano, visitei-a com a minha filha, até ela falecer uns anos depois.

No funeral, um advogado me disse que ela me deixara parte da herança, tal como aos filhos dela.

Para honrar a sua memória, doei o dinheiro a uma instituição de caridade que criei com os quatro filhos dela, incluindo a filha mais velha, a Matilde, de quem acabei por me enamorar, graças ao tempo que passámos juntos. Casámo-nos, e ela tornou-se mãe dos meus seis filhos.

Moral da história?

A bondade deixa marca. Nunca me esqueci da Dona Margarida, que me ajudou no pior momento. Ela inspirou-me a criar a instituição, para espalhar mais bondade pelo mundo.

Dar de volta é importante. Adotei três crianças com a minha falecida mulher porque também fui acolhido e queria melhorar a vida de quem passasse por isso.

Partilhem esta história. Pode alegrar o dia de alguém — e quem sabe inspirá-los a fazer o bem.

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