Quando dei à luz o meu lindo bebé, Tomás, pensei que seria o dia mais feliz da minha vida. Mas uma traição inesperada partiu o meu mundo em pedaços, deixando-me devastada e sozinha. Fiz as malas e parti com o nosso recém-nascido, obrigando o meu marido, Guilherme, a enfrentar as suas prioridades.
Há algumas semanas, trouxe Tomás ao mundo depois de uma gravidez difícil, repleta de noites sem dormir e preocupações constantes. Mas no momento em que o segurei nos braços, tudo valeu a pena.
O plano era simples: o meu marido, Guilherme, viria buscar-nos ao hospital, e começaríamos a nossa nova vida em família. Imaginava-o a segurar o Tomás, os olhos brilhantes de alegria. Essa imagem deu-me força nos dias mais difíceis.
No dia em que tivemos alta, estava cheia de excitação. Tomás estava enrolado num cobertor macio, e cada pequeno som que fazia aquecia-me o coração.
Continuei a olhar para o relógio, cada minuto passava mais devagar que o anterior. Guilherme devia estar aqui. Olhei para o telemóvel — nenhuma chamada perdida, nenhuma mensagem. A minha excitação transformou-se em preocupação.
“Está tudo bem?”, perguntou a enfermeira, notando a minha inquietação.
“Acho que sim”, respondi, sem convicção. “O meu marido está atrasado.”
Liguei para Guilherme, mas foi para o correio de voz. Enviei mensagens, cada uma mais desesperada. Uma hora passou, e ainda sem resposta. A minha mente acelerou — teria tido um acidente? Estaria ferido?
Finalmente, o telemóvel vibrou. A sensação de alívio desapareceu quando li a mensagem: “Desculpa, amor, vou chegar uma hora atrasado. Estou no centro comercial. Há uma promoção incrível na minha loja de ténis preferida, não podia perder.”
Fiquei a olhar para o ecrã, sentindo o chão desaparecer sob os meus pés. As minhas mãos tremiam enquanto segurava o Tomás, o coração aos pulos. Como é que ele podia? Eu ali, com o nosso bebé nos braços, pronta para começar a nossa vida juntos, e ele estava a comprar ténis.
“Está bem?”, perguntou a enfermeira, a voz suave mas preocupada.
As lágrimas caíram. “Ele… está no centro comercial. Por causa de uma promoção de ténis.”
Os olhos dela alargaram-se, incrédula, e não hesitou. “Deixe-me levá-la a casa”, disse com firmeza. “Não devia passar por isto sozinha.”
“Tem a certeza?”, perguntei, dividida entre gratidão e humilhação.
“Claro”, respondeu, pegando na cadeirinha do Tomás. “Já passou por muito. Deixe-me ajudá-la.”
A viagem para casa foi pesada, cheia de silêncio. Mal conseguia olhar para o Tomás sem sentir um nó na garganta. Este dia devia ser feliz, mas foi arruinado por algo tão insignificante.
Quando chegámos a casa, preparei-me. Lá dentro, Guilherme estava no sofá, rodeado de sacos de compras, a sorrir orgulhoso para os novos ténis.
Olhou para mim e, ao ver o meu rosto marcado pelas lágrimas, o sorriso desapareceu. “O que se passa?”, perguntou, totalmente confuso.
“Inês”, disse, a voz a tremer de raiva e dor, “faltaste à nossa saída do hospital porque estavas a comprar ténis! Sabes o quanto isso magoou?”
A perceção atingiu-o, mas as próximas palavras pioraram tudo. “Pensei que podias chamar um Uber. Não achei que fosse grave.”
Não podia acreditar. Não era por causa da boleia — era pelo que representava. Ele não esteve lá por nós, escolheu os ténis em vez da família. O meu mundo desmoronou-se, e tudo o que queria era fugir, pensar, respirar.
A enfermeira tocou-me no ombro com suavidade. “Se precisar de algo, ligue para o hospital”, disse em voz baixa.
“Obrigada”, murmurei, entrando em casa, sentindo-me mais sozinha do que nunca.
Precisava que Guilherme percebesse o que tinha feito. O coração batia forte enquanto fazia uma mala para mim e para o Tomás. Cada peça que dobrava parecia mais um pedaço da minha confiança a partir-se.
Os sons suaves do Tomás contrastavam com a tempestade dentro de mim. Guilherme, ainda alheio, observava do sofá.
“Inês, o que estás a fazer?”, perguntou, finalmente sentindo que algo estava errado.
“Estou a ir-me embora”, respondi, evitando o seu olhar. “Preciso de tempo para pensar, e tu precisas de entender as tuas prioridades.”
Ele levantou-se, bloqueando-me o caminho. “Espera, vamos conversar. Não podes ir-te embora.”
“Deixei um bilhete”, disse friamente. “Lê quando eu não estiver.”
Passei por ele, sentindo o seu olhar nas minhas costas. Coloquei o Tomás na cadeirinha, as mãos a tremer. A viagem para casa da minha irmã foi um borrão, a mente cheia de pensamentos dolorosos.
A minha irmã abriu a porta, o rosto cheio de preocupação e confusão. “Inês, o que aconteceu?”
“O Guilherme…”, comecei, a voz a quebrar. “Escolheu ténis em vez de nós.”
Os olhos dela alargaram-se, mas não insistiu. Abraçou-me com força e levou-nos para dentro.
Durante uma semana, as chamadas e mensagens do Guilherme encheram o telemóvel. Cada uma trouxe uma pontada de culpa e tristeza. As mensagens variavam entre desculpas frenéticas e voicemails chorosos, mas ignorei-as. Precisava que ele sentisse o vazio que criou.
Ele aparecia em casa da minha irmã todos os dias, a bater e a implorar. A minha irmã era firme, recusando-se a deixá-lo entrar. “Ela não está pronta, Guilherme”, dizia.
Certa noite, ao pôr-do-sol, a minha irmã pôs-me a mão no ombro. “Inês, talvez devas falar com ele. Ele parece… destruído.”
Hesitei, mas sabia que ela tinha razão. Não podia evitá-lo para sempre. Concordei em vê-lo no dia seguinte.
Quando Guilherme chegou, fiquei chocada. Estava irreconhecível — desleixado, com olheiras profundas. As lágrimas caíram assim que me viu.
“Inês”, balbuciou, “peço-te desculpa. Fui um idiota. Não percebi o quanto te magoei. Por favor, deixa-me corrigir isto.”
Segurei o Tomás com força, o coração a doer com o seu sofrimento. “Guilherme, não é por teres faltado à saída do hospital. É pelo que isso significa. A nossa família tem de vir em primeiro lugar, sempre.”
Ele assentiu, limpando as lágrimas. “Eu sei. Vou mudar. Estou a ir a um terapeuta para trabalhar nas minhas prioridades e na comunicação. Por favor, dá-me uma oportunidade.”
Estudei-o, vendo verdadeiro remorso no seu olhar. “Dou-te uma chance, Guilherme. Mas se nos falhares outra vez, vou-me embora para sempre.”
O alívio inundou-lhe o rosto, e ele aproximou-se, mas parei-o. “Mais uma coisa”, disse com firmeza. “Até provares que estás pronto para ser um pai e marido responsável, vais tratar do Tomás a tempo inteiro. Sem desculpas.”
Ele ficou espantado, mas concordou. “O que for preciso, Inês. Farei tudo.”
Entreguei-lhe o Tomás, vendo-o lutarEle aprendeu a ser pai, eu reaprendi a confiar, e juntos reconstruímos a nossa família com amor, um dia de cada vez.