Marido enviou a sogra para o litoral. Mas não esperava que eu também partisse. Para sempre.

O Mar e a Escolha

— Leonor, as tuas férias foram canceladas — anunciou o Rui durante o jantar, com um sorriso de satisfação estampado no rosto. Ele claramente saboreava o momento. — Comprei uma viagem para a minha mãe. Ela sempre sonhou em ver o mar, percebes? Agora vai ser ela, e não tu, a desfrutar do descanso. Merece.

Leonor ergueu os olhos do prato devagar. Fixou o marido com um olhar longo e pensativo. Não disse nada. Apenas sorriu, não com malícia, mas com uma calma que o surpreendeu.

Aquele sorriso inquietou o Rui. Ele estava preparado para um escândalo, para gritos, para pratos voando na sua direção. Mas recebeu apenas silêncio. E aquele sorriso estranho.

— Então… não te importas? — perguntou ele, já menos confiante. — A sério?

— Claro que não, querido — respondeu Leonor, continuando a comer como se nada tivesse acontecido. — Se a tua mãe sempre quis ir ao mar, então que o sonho dela se realize. Como poderia ser diferente?

O Rui ficou visivelmente confuso. De onde vinha aquela serenidade? Será que tinha corrido tão bem? “Afinal, a Leonor é mais compreensiva do que pensei”, pensou, aliviado.

A Dona Isabel partiu três dias depois. Uma viagem para o Algarve, um fato de banho novo, uma mala cheia e um sorriso radiante. Não parava de falar:

— Vês, Leonor, como este chapéu me fica bem? Foi a vizinha que mo emprestou, mas não lho devolvo! O Rui, meu filhote, obrigada! És um verdadeiro homem. E tu, Leonor, não fiques muito triste. A não ser que… — riu-se — a consciência te atormente por eu estar a gozar o sol enquanto tu ficas nesta casa cheia de mofo.

O humor da sogra era peculiar, mas Leonor limitou-se a sorrir e a acenar.

Naquela noite, o Rui saboreou o seu vinho à frente da televisão, a ver um jogo de futebol. Sentia-se um herói: tinha feito o bem à mãe e evitado um conflito em casa. “Isto sim”, pensou, satisfeito, “é uma vida madura. Tudo sob controlo.”

Mas depois tudo mudou.

Na noite seguinte, Leonor não regressou a casa. O telemóvel dela não atendia. O Rui só começou a preocupar-se perto da meia-noite, quando foi à casa de banho e reparou que a escova de dentes dela tinha desaparecido. Depois, verificou o roupeiro — metade da roupa dela sumira. O perfume, os cremes, até o fato de banho novo que ela comprara para as férias, tudo desaparecido.

Era como se a Leonor nunca tivesse existido.

No dia seguinte, recebeu uma mensagem: «Adeus, Rui. Se não me consegues levar ao mar, eu, como mulher, levo-me a mim mesma. Não bebas muito — nem bêbado nem sóbrio não passas de um bom exemplo de homem medíocre. Leonor.»

Abaixo, uma fotografia. Leonor à beira-mar, com um chapéu de abas largas, um vestido decotado e um copo de sangria na mão. Ao lado dela, um homem alto e barbudo, de camisa branca. Ambos com sorrisos felizes.

O Rui ficou a olhar para o ecrã, sem acreditar. Como era possível? Ela fugira com alguém? E a casa, o casamento, o compromisso?

Três dias depois, ainda estava em casa a beber. Primeiro vinho, depois aguardente, e no fim qualquer coisa de garrafa barata — nem sabia o que era. A televisão estava em silêncio. A única coisa que quebrava o vazio era o miar triste da gata, que só comia o que roubava da mesa enquanto ele dormia.

Leonor desaparecera, como se nunca tivesse existido.

No sétimo dia, a Dona Isabel voltou — bronzeada, revigorada, com óculos de sol e um íman de um galo de Barcelos na mala.

— Filho, cheguei! — anunciou, cheia de energia. — Não imaginas como foi bom! O mar, a comida… Só que comi tanta amêijoa que fiquei um dia no quarto, mas que vista! Sobre o oceano. A propósito, onde está a Leonor?

O Rui estava na poltrona — desleixado, inchado, de boxers e uma camiseta velha. À frente, uma garrafa vazia e um prato de massa fria.

— A Leonor… está no mar — respondeu com voz rouca. — Fugiu com um amante. No dia seguinte à tua partida, mãe. Mandou-me mensagem a dizer que, se eu não a levava ao mar, ela ia sozinha. E depois a fotografia… A rir-se com um barbudo.

A Dona Isabel ficou petrificada. Ficou em silêncio por um minuto, depois explodiu:

— Mas que raio é isto? E tu, que homem és tu? Deixaste a tua mulher fugir assim? Onde estavas quando ela arrumava as coisas?

— A beber.

— Claro! Devia ter adivinhado. Bebeste enquanto ela pegava nas coisas e partia. Nem um pingo de respeito. E tu, aí parado como uma galinha morta. Levanta-te, vai atrás dela!

— Para quê, mãe? — O Rui riu-se amargamente. — Ela escreveu: «Adeus». Não há volta a dar. E agora… Ela tem tudo: dinheiro, passaporte e, provavelmente, felicidade.

— Ó Rui, Rui… Que parvo és, meu filho… E eu, velha tola. — A Dona Isabel sentou-se e olhou para o chão. — Fui eu que estraguei tudo. Devia ter-te comprado a viagem a ti e à Leonor, não a mim.

Passou um mês. Leonor nunca mais voltou.

Através das redes sociais, a Dona Isabel descobriu que Leonor não estava no Algarve, mas em Lisboa. Depois em Paris. E mais tarde em Madrid. Em todas as fotos, ela sorria, feliz, posando diante de monumentos famosos. O homem chamava-se Eduardo — divorciado, empresário, vivia em França.

Numa das fotos, Leonor escreveu: «Quando uma mulher deixa de esperar milagres do marido, encontra-os por si mesma.»

Pouco depois, chegaram os papéis de divórcio. O Rui nem os leu — assinou e enviou-os de volta.

Na cozinha, a Dona Isabel, agora com mais cabelos brancos, murmurava:

— Eu só queria que o meu filho fosse feliz… E agora está sozinho. Tudo porque eu quis ir ao mar…

Mais duas semanas passaram. Um dia, bateram à porta.

O Rui abriu. Do outro lado, estava Leonor — elegante, bronzeada, com um ar renovado. Ele mal acreditava.

— Olá, Rui — disse ela, entrando como se nada tivesse acontecido. — Vim buscar algumas coisas — fotos, documentos. Não te importas?

Ele anuiu em silêncio. Depois,

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