Meu Enteado Me Chamou Antes do Casamento e Sussurrou: ‘Não Case com Ele’

A primeira vez que encontrei o Daniel foi numa pastelaria perto de Alcântara. Ele estava a tentar equilibrar uma chamada no telemóvel, um saco de pastéis de nata e uma carteira que teimava em não colaborar. Quando os cartões de crédito dele caíram no chão, ajoelhei-me para ajudar.

“Obrigado,” disse ele, envergonhado. “Juro que não costumo ser tão desastrado.”

Sorri. “Toda a gente tem dias assim.”

Foi assim que começou. O Daniel tinha uma presença tranquila, como um bálsamo para o caos a que estava habituada. Lembrava-se que eu gostava de canela no meu galão, mandava mensagens a perguntar se tinha chegado bem a casa e nunca me fazia sentir que tinha de merecer o seu afeto.

Depois de anos a namorar homens emocionalmente indisponíveis, que tratavam as relações como distrações passageiras, o Daniel parecia algo sólido. Parecia lar.

“Tenho um filho,” disse-me durante o jantar no nosso terceiro encontro. “O Tomás. Tem treze anos. A mãe dele saiu de casa quando ele tinha oito. Temos andado os dois sozinhos desde então.”

“Adorava conhecê-lo,” respondi.

O rosto dele iluminou-se. “A sério? A maioria das mulheres foge.”

“Eu não fujo,” sorri. “A não ser que me dês um bom motivo.”

Conhecer o Tomás foi… complicado. Ele era educado, sim, mas distante. Feito fortaleza, com placas de “Proibido Entrar” em cada esquina.

“O teu pai diz que gostas de astronomia,” tentei, numa noite durante o jantar.

“Às vezes,” respondeu, sem levantar os olhos.

“Eu adorava observar as estrelas em miúda. Talvez pudéssemos—”

“Costumo fazer isso sozinho.”

O Daniel lançou-lhe um olhar severo. “Tomás, sê educado.”

“Eu estou a ser educado, pai.”

E estava. Tecnicamente. Mas nunca me deixou entrar. Respondia com expressão vazia, tratando-me por “senhora” como se eu fosse uma professora, e não alguém que tentava aproximar-se.

Numa noite, ofereci-me para ajudar com os trabalhos de casa. Ele olhou para mim e disse, seco: “A senhora não é a minha mãe.”

“Eu sei,” respondi, suave. “Não estou a tentar ser.”

Ele segurou o meu olhar por um instante, depois virou-se de novo para os exercícios. Aquela muralha entre nós nunca rachou.

Mesmo assim, continuei a tentar. E o Daniel tranquilizava-me: “Ele vai acabar por ceder. A vida não tem sido fácil para ele. Dá tempo.”

Eu acreditei nele.

Noivámos numa noite chuvosa de novembro. Ele propôs casamento no nosso restaurante favorito, de joelhos, com as mãos a tremer e os olhos cheios de lágrimas. Disse que sim, o coração cheio de esperança.

Quando contámos ao Tomás, ele forçou um sorriso e murmurou: “Parabéns.”

Por um momento fugaz, pensei que estávamos a progredir.

Enganei-me.

A manhã do casamento estava perfeita. O jardim do evento brilhava sob o sol da manhã, com rosas brancas a cair sobre cada arco. O meu vestido parecia saído de um conto de fadas, a maquilhagem estava impecável, e tudo parecia um sonho.

Exceto que não conseguia parar de andar de um lado para o outro.

Estava a verificar o meu ramo pela décima vez quando alguém bateu à porta do quarto da noiva.

“Entra!” chamei, à espera da minha madrinha.

Mas era o Tomás.

Parecia desconfortável no fato, a mudar o peso de um pé para o outro, o rosto pálido.

“Olá,” murmurou. “Podemos falar? Só nós?”

“Claro. Estás bem?”

“Não aqui. Podemos ir lá para fora?”

Segui-o por um corredor lateral até ao pátio do jardim. Os convidados estavam distantes, mas ali, estava tudo calmo.

“Tomás, o que se passa?”

Ele olhou para mim, os olhos escuros cheios de um peso que não entendia.

“Não case com o meu pai.”

As palavras caíram como água gelada.

“O quê?”

“Eu sei que acha que isto é coisa de miúdo,” disse depressa. “Ou que não gosto da senhora. Mas eu gosto. A senhora é boa pessoa, divertida, e faz panquecas melhores que ninguém. E nunca grita quando eu me esqueço de tirar os sapatos sujos.”

“Então… porque estás a dizer isto?”

“Porque ele vai magoá-la.”

A minha garganta apertou. “Tomás, do que estás a falar?”

Ele enfiou a mão no bolso do fato e tirou um envelope grosso. De mãos a tremer, entregou-mo.

“Não sabia como contar-lhe. Mas tem de ver isto.”

Dentro estavam notificações de dívidas, documentos de tribunal e e-mails impressos entre o Daniel e alguém chamado Rui.

Os e-mails fizeram-me sentir náuseas.

“Ela não tem família, a casa é dela, e tem poupanças generosas. Casa com ela, espera dois anos, alega desgaste emocional, e ficas com metade. Fácil, pá.”

“Ela já está completamente apaixonada. Eu avisei—o meu charme funciona. Estou no fundo do poço. Isto salva-me.”

Fiquei a olhar para as palavras até elas se desfocarem.

“Há quanto tempo sabias?” perguntei.

“Ouvi-o a falar com o tio Rui há semanas,” sussurrou o Tomás. “Estava a gabar-se… de como ia convencê-la a assinar tudo. A princípio não acreditei. Quis pensar que percebi mal.”

Olhei para ele, as lágrimas a ameaçarem cair.

“Então tu… o quê? Roubaste-lhe o telemóvel?”

Ele anuiu. “Ele não tem cuidado. Eu sei o código. Tirei prints, imprimi na escola. Queria contar-lhe mais cedo, mas pensei que, se me fechasse o suficiente, a senhora afastava-se.”

“Oh, Tomás…”

“Não sabia o que fazer. Não queria estragar tudo se estivesse enganado. Mas tinha de lhe contar antes que fosse tarde.”

“Não estavas enganado,” disse eu, puxando-o para um abraço. “Estavas a tentar proteger-me.”

Liguei ao Miguel, meu amigo de longa data e advogado, que ia dar-me ao altar. Quando mostrei o envelope, ele ficou branco.

“Preciso de um acordo pré-nupcial à prova de bala,” disse-lhe. “Tudo o que é meu fica meu. Sem lacunas.”

“Tens a certeza?”

“Total.”

Ele redigiu-o e levou-o ao Daniel.

Minutos depois, ouvi os gritos pelo salão.

O Daniel entrou no quarto da noiva, o rosto vermelho e a tremer.

“Que raio é isto?! Um pré-nupcial? Agora?!”

“Assina,” disse, calma.

“Nem pensar. Isto é um insulto.”

“Então não há casamento.”

O rosto dele contorceu-se. “Mariana, eu amo-te.”

“Amas a ideia de esvaziar as minhas contas e começar de novo.”

“Isso é loucura!”

Mostrei-lhe o envelope. “Eu sei tudo, Daniel. Os e-mails. As dívidas. O plano.”

A expressão dele mudou de raiva para pânico.

“I—Isso não é o que parece.”

“Não?” perguntei. “Porque o teu próprio filho confirmou.”

O Daniel virou-se para o Tomás, que estava atrás de mim. “Seu traidor.”

“Não ouses,” gritei, colocando-me”Três anos depois, recebi um convite para a formatura do Tomás e, quando o vi sorrir ao meu encontro na plateia, soube que aquele pequeno gesto de coragem tinha mudado o destino dos dois para sempre.”

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