No Meu Aniversário de Dezoito Anos, Fui Expulso de Casa – Mas o Destino Me Levou de Volta a um Segredo Aterrador

Sofia sempre se sentiu uma estranha na própria casa. A mãe claramente preferia as irmãs mais velhas — Leonor e Beatriz — demonstrando-lhes muito mais cuidado e carinho. Esta injustiça magoava profundamente a menina, mas ela guardava o ressentimento dentro de si, tentando constantemente agradar à mãe para alcançar um pouco mais do seu afeto.

“Nem penses em viver comigo! O apartamento ficará para as tuas irmãs. E desde pequena que me olhas como uma loba. Por isso, vai viver onde quiseres!” — com estas palavras, a mãe expulsou Sofia de casa assim que ela fez dezoito anos.

Ela tentou argumentar, explicar que aquilo era injusto. Leonor era apenas três anos mais velha, e Beatriz cinco. Ambas tinham terminado a universidade paga pela mãe, sem pressa para se tornarem independentes. Mas Sofia sempre fora a deslocada. Por mais que se esforçasse para ser “boa”, na família era amada superficialmente — se é que se podia chamar aquilo amor. Só o avô a tratava com ternura. Foi ele quem acolheu a filha grávida depois do marido a ter abandonado e desaparecido sem deixar rasto.

“Talvez a mãe tenha mágoa da minha irmã? Dizem que me pareço muito com ela”, pensava Sofia, tentando justificar a frieza da mãe. Várias vezes tentara conversar abertamente, mas sempre terminava em gritaria ou drama.

Mas o avô era o seu verdadeiro apoio. As melhores recordações de infância estavam ligadas à aldeia onde passavam os verões. Sofia adorava trabalhar na horta, aprender a ordenhar vacas, fazer pão — tudo para adiar o regresso a casa, onde cada dia a esperavam olhares de desprezo e recriminações.

“Avô, porque é que ninguém me ama? O que é que eu tenho de errado?”, perguntava ela, segurando as lágrimas.

“Eu amo-te muito”, respondia ele com suavidade, mas nunca dizia uma palavra sobre a mãe ou as irmãs.

A pequena Sofia queria acreditar que ele tinha razão, que era amada, só à sua maneira… Mas quando fez dez anos, o avô morreu, e desde então a família tratou-a ainda pior. As irmãs troçavam dela, e a mãe sempre as defendia.

A partir daquele dia, nunca mais teve nada novo — apenas roupas usadas de Leonor e Beatriz. Elas gozavam:

“Olha, que blusa tão bonita! Serve para limpar o chão ou para a Sofia — o que for preciso!”

E se a mãe comprava doces, as irmãs comiam tudo, entregando-lhe apenas os papéis:

“Toma, parva, recolhe os papéis!”

A mãe ouvia tudo mas nunca as repreendia. Foi assim que Sofia cresceu como uma “loba” — desnecessária, sempre a mendigar amor de quem a via como um objeto de troça e repulsa. Quanto mais tentava ser boa, mais a odiavam.

Por isso, quando a mãe a expulsou aos dezoito anos, Sofia arranjou trabalho como auxiliar de saúde num hospital. Resistência e trabalho árduo tornaram-se-lhe habituais, e agora, pelo menos, era paga — ainda que pouco. Mas ali, ninguém a odiava. Se não recebias maldade onde eras bondosa, já era progresso. Era o que ela pensava.

O empregador até lhe deu a oportunidade de conseguir uma bolsa para se formar como cirurgiã. Na pequena vila, esses especialistas faziam falta, e Sofia já demonstrara talento enquanto enfermeira.

A vida era dura. Aos vinte e sete anos, não tinha familiares próximos. O trabalho tornou-se a sua vida — literalmente. Vivia pelos pacientes que salvava. Mas a solidão nunca a abandonava: vivia sozinha num quarto alugado, como antes.

Visitar a mãe e as irmãs era sempre uma desilusão. Sofia tentava ir o menos possível. Todas saíam para fumar e fofocar, e ela ia para o pátio chorar.

Um dia, nesse momento, um colega — o auxiliar Francisco — aproximou-se:

“Porque choras, linda?”

“Que linda… Não gozes comigo”, respondeu Sofia baixinho.

Considerava-se banal, um rato cinzento, sem reparar que aos quase trinta se tornara uma loira encantadora, de olhos azuis grandes e nariz delicado. A timidez da juventude desaparecera, os ombros erguiam-se, e o cabelo claro, preso num coque, parecia querer libertar-se.

“És mesmo bonita! Valoriza-te e não andes com a cabeça baixa. Além disso, vais ser uma grande cirurgiã, e a tua vida está a correr bem”, encorajou-a.

Francisco trabalhava com ela há quase dois anos, às vezes dando-lhe chocolates, mas esta era a primeira conversa verdadeira. Sofia chorou e contou-lhe tudo.

“Talvez devas telefonar ao Dr. António? Aquele que salvaste há pouco. Ele gosta de ti. Dizem que tem boas ligações”, sugeriu Francisco.

“Obrigada, Chico. Vou tentar”, respondeu ela.

“E se não resultar, casamo-nos. Eu tenho casa, não te maltrato”, disse a brincar.

Sofia corou e percebeu que ele falava a sério. Ele não via uma órfã coitada, mas uma mulher que merecia amor.

“Está bem. Vou considerar essa opção também”, sorriu, sentindo pela primeira vez em anos que não era uma “burra de carga”, mas uma mulher bonita com tudo pela frente.

Nessa mesma noite, Sofia ligou ao Dr. António:

“É a Sofia, a cirurgiã. Deu-me o seu número e disse que podia contactá-lo se precisasse…”, começou, hesitante.

“Sofia! Olá! Que bom que finalmente me ligaste! Como vais? Ainda assim, melhor encontrarmo-nos. Vem cá, tomamos um chá e falamos. Nós, os mais velhos, gostamos de conversar”, respondeu ele calorosamente.

No dia seguinte, como estava livre, foi até lá. Contou-lhe a situação e perguntou se conhecia alguém que precisasse de uma cuidadora.

“O senhor percebe, Dr. António, eu estou habituada a trabalhar muito, mas agora sinto que não aguento mais…”

“Não te preocupes, Sofiazinha! Posso arranjar-te um lugar como cirurgiã numa clínica privada. E vives comigo. Sem ti, eu não estaria aqui agora”, disse ele.

“Oh, claro, Dr. António, aceito! Mas os seus familiares não vão achar estranho?”

“Os meus familiares só aparecem quando já não estou. Só querem saber do apartamento”, respondeu ele com tristeza.

Assim, começaram a viver juntos. Passaram dois anos, e um romance nasceu entre ela e Francisco, muitas vezes conversando sobre chávenas de chá. Mas o Dr. António não gostava dele e não perdia oportunidade para lhe dizer:

“Desculpa, minha querida, mas o Francisco é um bom rapaz, só que fraco e influenciável. Não podes contar com alguém assim. Tenta não te afeiçoares muito.”

“Oh, Dr. António… Já é tarde. Já decidimos casar. Aliás, ele brincou com isso há dois anos. E agora estou grávida…”, anunciou Sofia radiante de felicidade. Ainda recente a notícia, acrescentou, “Mas o senhor continua muito importante para mim! Vou visitá-lo todos os dias. É como família.”

“Bem, Sofiazinha… Não me sinto muito bem. Vamos resolver isto: amanhã vamos ao notário, e vou registar uma casa na aldeia em teu nome. Sempre gostaste da vida no campo. Pode ser a tua casa de férias… ou podes vendê-la se quiseres.”

Hesitou, não terminando a frase, e franziu o sobrolho.

Sofia tentou recusar: era demais,E quando o bebé nasceu, envolto no calor daquele lar que finalmente era só seu, Sofia percebeu que a verdadeira família não é aquela em que se nasce, mas a que se constrói com amor.

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