O Rico Que Abandonou a Empregada Grávida — E Se Arrependeu ao Reencontrá-la

*15 de maio de 2024*

O vento soprava suave sobre Lisboa enquanto eu, Eduardo Duarte, olhava da varanda do meu apartamento de luxo no Chiado. A cidade, banhada pelo dourado do pôr-do-sol, parecia tão viva quanto os negócios que me trouxeram até aqui. Mas os passos atrás de mim não eram de algum sócio ou investidor.

Era ela.

Beatriz.

Três anos atrás, era apenas a empregada discreta que vinha todas as manhãs para limpar os lustres e encerar o mármore. Quase não falava, a menos que falassem com ela. Mas numa noite de tempestade, depois de uma perda nos negócios e um vazio que não sabia nomear, eu bebi demais e encontrei-a no corredor. Frágil. Doce. Conhecida. O que aconteceu entre nós, depois, chamei de erro.

Dois meses depois, Beatriz bateu à porta do meu escritório. Suas mãos tremiam segurando o teste de gravidez. “Estou grávida,” sussurrou.

Minha reação foi fria, calculista. Assinei um acordo de confidencialidade, entreguei-lhe um cheque com mais zeros do que ela jamais vira e ordenei que desaparecesse.

“Não quero ser pai,” disse, evitando seus olhos marejados. “E não vou deixar você destruir tudo que construí.”

Ela foi embora sem uma palavra.

E eu enterrei a memória.

Mas agora, três anos depois, ela estava de volta.

Quando as portas se abriram, Beatriz entrou com uma elegância que só mulheres que enfrentaram tempestades têm. Não mais de uniforme, mas com um vestido bege e sapatos baixos. O cabelo preso, a postura digna. E ao seu lado, segurando sua mão, um menino de olhos castanhos grandes e covinhas idênticas às minhas.

“Por que está aqui?” perguntei, voz cortante.

“Não vim por dinheiro,” respondeu ela, calma. “Vim para o seu filho conhecê-lo. E para dizer que ele está doente.”

As palavras explodiram entre nós.

“Doente… como?”

“Leucemia,” disse, olhos fixos nos meus. “Precisa de um transplante de medula. E você é o único compatível.”

O copo escorregou da minha mão e se desfez no chão.

O silêncio foi quebrado apenas pelo zumbido do lustre acima de nós. Eu, que construí um império bilionário, que podia comprar ilhas ou controlar políticos, senti-me completamente impotente.

“Eu… eu não sabia.”

“Não, você não quis saber,” retrucou, voz agora afiada como uma faca. “Jogou-nos fora como se não importássemos. Mas ele importa. E agora, você tem a chance de provar que também importa.”

O menino olhou para mim, curioso. “Você é meu pai?”

Meus joelhos quase falharam.

“Eu… sou,” murmurei.

Pela primeira vez em anos, a culpa subiu pela minha garganta como uma faca.

Beatriz respirou fundo. “Não quero sua culpa. Quero sua medula. Sua palavra. Depois disso… a escolha é sua.”

Engoli seco. “Qual hospital? Quando começamos?”

“Segunda-feira. No Hospital de Santa Maria. O tempo está acabando.”

Quando ela se virou para sair, chamei: “Beatriz.”

Ela parou, mas não se virou.

“Cometi um erro terrível.”

Ela hesitou, depois sussurrou: “Nós dois cometemos. Mas eu vivi com o meu. Você fugiu do seu.”

E então foi embora—levando nosso filho com ela.

Naquela noite, não dormi. Fiquei no meu escritório, cercado por troféus, prêmios e capas de revistas chamando-me “O Visionário Mais Impiedoso de Portugal.” Mas nada disso importava. Só conseguia ver aqueles olhos castanhos, tão parecidos com os meus.

Percebi então: o sucesso me deu tudo, exceto o que realmente importava.

Abandonei a única pessoa que precisava de mim—e talvez, apenas talvez, ainda houvesse tempo para corrigir isso.

No dia do transplante, cheguei cedo ao Hospital de Santa Maria. As mãos suavam dentro do meu terno. Quando entrei na ala de oncologia pediátrica, uma enfermeira sorriu.

“Sr. Duarte?”

“Estou aqui para… meu filho. Tomás.”

“Quarto 304. Ele está perguntando por você.”

Minhas pernas moveram-se antes do meu cérebro. Diante da porta, hesitei. Fechara negócios de milhões sem pestanejar, mas este momento pesava mais que todos juntos.

Bati levemente.

Beatriz abriu, o rosto cansado, mas sereno. “Você veio.”

“Disse que viria.”

Dentro, Tomás estava sentado na cama, abraçando uma girafa de pelúcia e com purê intocado no prato. Seu sorriso iluminou ao me ver.

“Olá, pai.”

Engasguei. “Olá, filho.”

Ajoelhei-me ao lado da cama. “Como está se sentindo?”

“Os médicos dizem que sou corajoso. A mamã diz que puxei a ela.”

Sorri. “Ela está certa. Ela é muito forte.”

Beatriz ficou num canto, os braços cruzados, observando. Não julgando—apenas protegendo.

Naquela hora, contei a Tomás sobre a vista do meu apartamento, sobre o Jardim Zoológico que visitaríamos quando ele melhorasse, e fiz caretas que o fizeram rir.

O transplante foi um sucesso.

Nos meses seguintes, afastei-me da presidência da empresa, deleguei funções e passei todos os sábados com Tomás—museus, pastelarias, jogando bola no Parque das Nações. Nunca faltei.

Numa tarde, depois de um passeio no Jardim Botânico, Tomás adormeceu no carro. Olhei para Beatriz ao meu lado.

“Você foi incrível,” disse baixinho. “Com ele. Comigo.”

“Está compensando o tempo perdido,” respondeu. “É mais do que eu esperava.”

Hesitei. “Quero mais.”

Ela virou-se, surpresa.

“Quero ser um pai de verdade. Não só aos fins de semana. Quero partilhar tudo—os bons dias, as birras, as descobertas. Quero estar lá quando ele perder o primeiro dente ou andar de bicicleta sem rodinhas.”

Ela ficou quieta, os olhos brilhando.

“E não só por ele,” continuei. “Por você também. Se me deres essa chance.”

Ela olhou para as luzes da cidade.

“Não sou a mesma mulher que você abandonou, Eduardo. Sou mais forte agora.”

“Não quero a mulher que você era,” respondi. “Quero a mulher que você é.”

Seus lábios tremeram, depois curvaram-se num sorriso.

“Você tem muito mais a provar.”

“Então passarei o resto da minha vida fazendo isso.”

*Um ano depois*

Num pequeno jardim em Sintra, debaixo de uma cerejeira em flor, segurei a mão de Beatriz enquanto Tomás espalhava pétalas num cestinho.

Ela vestia um vestido de linho branco. Eu, sem gravata—apenas com paz no coração.

Quando o padre nos declarou marido e mulher, Tomás gritou: “Agora tenho dois apelidos!”

Todos rimos.

E ao beijar Beatriz, percebi que o império que levei anos a construir nunca se compararia a este momento—cercado de amor, de redenção, de família.

A verdadeira riqueza que eu nem sabia que me faltava.

*Lição do dia: O sucesso é vazio sem amor. E às vezes, a única fortuna que vale a pena conquistar é a que se constrói com as mãos e o coração.*

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