—Estás a brincar comigo —disse Mariana, fitando António Ferreira com os olhos muito abertos.
Ele abanou a cabeça:
—Não, não estou a brincar. Mas dou-te tempo para pensar. Porque a proposta não é comum. Até suspeito do que estás a pensar. Pensa bem, reflete… volto dentro de uma semana.
Mariana observou-o, desconcertada. As palavras que ele dissera não faziam sentido na sua mente.
Conhecia António Ferreira há três anos. Ele tinha uma rede de bombas de gasolina e outros negócios. Numa dessas bombas, Mariana trabalhava como empregada de limpeza. Ele sempre cumprimentava o pessoal com simpatia e liava conversas agradáveis. No fundo, era uma boa pessoa.
O salário na bomba de gasolina era razoável, e havia muitos interessados no lugar. Há uns dois meses, depois de limpar, Mariana sentou-se lá fora: o turno estava quase a acabar e ainda tinha algum tempo livre.
De repente, a porta do acesso dos funcionários abriu-se e apareceu António.
—Posso sentar-me?
Mariana levantou-se num salto:
—Claro! Por que pergunta?
—E por que te levantas assim? Senta, não mordo. Hoje é um bom dia.
Ela sorriu e voltou a sentar-se.
—Sim, na primavera parece que o tempo está sempre melhor.
—É porque todos já estamos cansados do inverno.
—Talvez tenha razão.
—Sempre quis perguntar-te: por que trabalhas como limpadora? A Ana ofereceu-te passar a operadora. Melhor salário, trabalho mais leve.
—Eu adoraria, mas não posso pelo horário —a minha filha é pequena e adoece. Tudo corre bem quando a vizinha toma conta, mas se há algum surto, tenho de estar perto. Por isso revezamo-nos com a Ana quando é preciso. Ela sempre ajuda.
—Entendo… E o que se passa com a menina?
—Ai, nem pergunte… Os médicos nem sequer percebem bem. Ela tem ataques, não consegue respirar, pânico, muitas coisas. Os exames são sérios e caros. Dizem que é esperar, que talvez passe com a idade. Mas eu não posso esperar…
—Bem, aguenta. Tudo vai correr bem.
Mariana agradeceu. E nessa noite soube que António lhe dera um bónus —sem explicações, simplesmente entregou-lho.
Depois disso, não o viu mais. E hoje, de repente, ele apareceu em sua casa.
Quando Mariana o viu, o coração quase parou. E quando ouviu a proposta, sentiu-se ainda pior.
António tinha um filho: Pedro, de quase trinta anos. Sete desses anos passou-os numa cadeira de rodas, depois de um acidente. Os médicos fizeram o possível, mas ele nunca mais voltou a andar. Depressão, isolamento, quase uma recusa total de contacto —até com o pai.
Foi então que a António ocorreu uma ideia: casar o filho. A sério. Para que ele tivesse um propósito, vontade de viver, de lutar. Não tinha certeza de que funcionaria, mas decidiu tentar. E achou que Mariana era a pessoa ideal.
—Mariana, viverás com todo o conforto. Terás tudo. A tua filha fará todos os exames e terá o tratamento. Proponho um contrato de um ano. Dentro de um ano, vais-te embora, aconteça o que acontecer. Se o Pedro melhorar, ótimo. Se não, serás generosamente recompensada.
Mariana não conseguia falar: a indignação invadiu-a.
António, como se lesse os seus pensamentos, disse suavemente:
—Mariana, peço-te, ajuda-me. Isto é bom para os dois. Nem sequer tenho certeza de que o meu filho se aproxime de ti. Mas para ti será mais fácil: estarás numa posição respeitável, legalmente casada. Imagina que te casas não por amor, mas por circunstâncias. Só te peço: desta conversa, não digas nada a ninguém.
—Espere, António… E o seu Pedro? Ele concorda?
O homem sorriu com tristeza:
—Diz que tanto lhe faz. Eu direi que tenho problemas —com os negócios, com a saúde… O importante é que ele esteja casado. A sério. Sempre confiou em mim. Então isto… é uma mentira para o bem.
António saiu, e Mariana ficou sentada, paralisada. Por dentro, fervia a indignação. Mas as palavras diretas e sinceras dele suavizaram um pouco a crueldade da proposta.
E se pensasse bem… o que não faria por Inês?
Tudo.
E ele? Também é pai. Também ama o filho.
Ainda não tinha acabado o turno quando o telemóvel tocou:
—Mariana, rápido! A Inês está com um ataque! Muito forte!
—Já vou! Chamem a ambulância!
Chegou a tempo de ver a ambulância parar à porta.
—Onde estava, mãe? —perguntou o médico com severidade.
—Estava a trabalhar…
O ataque era mesmo sério.
—Talvez para o hospital? —perguntou Mariana, tímida.
O médico, que vinha pela primeira vez, abanou a mão cansado:
—Para quê? Lá não a ajudam. Só lhe estragam os nervos. Oxalá pudessem ir a Lisboa —a uma boa clínica, com especialistas a sério.
Quarenta minutos depois, os médicos foram-se.
Mariana pegou no telemóvel e ligou para António:
—Aceito. A Inês teve outro ataque.
No dia seguinte, partiram.
António veio pessoalmente, acompanhado de um jovem bem barbeado.
—Mariana, leva só o essencial. O resto compramos.
Ela concordou.
Inês olhava com curiosidade o carro —grande e reluzente.
António agachou-se à sua frente:
—Gostas?
—Muito!
—Queres ir à frente? Assim vês tudo.
—Pode ser? Quero muito!
A menina olhou para a mãe.
—Se os polícias nos virem, multam —disse Mariana com severidade.
António riu-se e abriu a porta:
—Entra, Inês! E se alguém quiser multar-nos, nós é que lhes vamos pôr a multa!
À medida que se aproximavam da casa, Mariana ficava mais nervosa.
«Meu Deus, por que aceitei? E se ele for estranho, agressivo…?»
António percebeu a sua inquietação…
—Mariana, acalma-te. Falta ainda uma semana para o casamento. Em qualquer momento podes mudar de ideias. E além disso… o Pedro é um bom rapaz, inteligente, mas algo dentro dele partiu-se. Vais perceber.
Mariana saiu do carro, ajudou a filha a sair e, de repente, ficou imóvel, a olhar para a casa. Não era só um edifício: era um verdadeiro palácio. E Inês, sem se conter, gritou com alegria:
—Mãe, agora vamos viver como num conto de fadas!
António soltou uma gargalhada, levantou a menina nos braços:
—Gostas?
—Muito!
Até ao casamento, Mariana e Pedro viram-se apenas algumas vezes, em jantares. O jovem quase não comia, quase não falava. Estava apenas sentado à mesa, como se o corpo ali estivesse e a mente noutro lugar. Mariana observava-o com cautela. Por fora, era atraente, mas pálido, como se há muito não visse o sol. Sentia que, tal como ela, ele vivia com dor. E agradecia-lhe por nunca tocar no assunto do casamento iminente.
No dia do casamento, parecia que cem pessoas giravam à volta de Mariana. O vestido chegou literalmente na véspera. Quando o viuMariana olhou para Pedro, segurou a mão dele com firmeza e sorriu, sabendo que, apesar de tudo, a vida finalmente lhes dera uma segunda chance.