Rico abandona empregada grávida, mas o destino os reúne uma década depois6 min de lectura

Um milionário deixou a empregada doméstica grávida e abandonou-a, convencido de que ela não era digna dele. Dez anos depois, ao reencontrá-la, só conseguiu olhá-la com remorso.

Duarte Albuquerque sempre acreditou que os erros podiam ser enterrados sob dinheiro, distância e tempo—até o dia em que entrou no imponente saguão da nova sede tecnológica no centro do Porto e viu a última mulher que esperava reencontrar. De pé, com confiança no centro da sala, dando instruções a uma equipa de executivos, estava Beatriz Nunes, a empregada doméstica por quem se apaixonara… e a mulher que abandonara quando ela lhe disse que estava grávida.

Há dez anos, Duarte era um milionário de trinta anos com todos os privilégios ao seu alcance. Beatriz, então com vinte e dois, trabalhava na quinta da família: calma, humilde e incansável. Nunca esperou que um homem rico como ele reparasse nela, mas Duarte reparou. Partilharam conversas noturnas na cozinha, risos doces no jardim e uma noite impulsiva que mudou tudo. Porém, quando Beatriz lhe contou que esperava um filho dele, a confiança de Duarte esboroou-se. O seu poderoso pai—o homem que controlava o império Albuquerque—avisou-o que “uma criada não era digna do sobrenome da”. Amedrontado com a ideia de perder a herança e a reputação, Duarte tomou a decisão mais cobarde da vida: negou tudo e cortou contacto.

Beatriz foi-se sem pedir nada. Desapareceu da mansão na manhã seguinte, e Duarte convenceu-se de que era o melhor. Enterrou a memória num canto da mente—até ao momento em que a viu outra vez.

E ali estava ela: já não a tímida empregada de uniforme em segunda mão. Trajava um fato azul-marinho feito sob medida, uma discreta placa dourada com o nome e uma autoridade serena que fazia toda a sala calar-se quando falava. A Duarte gelou-se o sangue ao ver o logótipo atrás dela: Nunes Tech.

O choque atingiu-o como uma vaga: a empregada que abandonara era agora a CEO da empresa que a sua companhia tentava adquirir.

Beatriz viu-o. Os olhos arregalaram-se por um instante, depois tornaram-se frios e impenetráveis. Duarte sentiu-se pequeno—mais pequeno do que jamais se sentira.

Ele ali estava para negociar um acordo comercial.
Em vez disso, enfrentava as consequências de uma traição de dez anos atrás.

Duarte seguiu Beatriz até à sala de reuniões envidraçada, com o coração a bater com força. Os empregados observavam com curiosidade silenciosa: porque é que o seu CEO, sempre tão confiante, parecia tão tenso?

Beatriz sentou-se à cabeceira da mesa, postura ereta, expressão profissional mas distante. «Senhor Albuquerque», começou, sem sequer usar o nome dele. «Faça desta reunião breve. Tenho outro compromisso em trinta minutos.»

O tom doía mais que um grito.

Duarte anuiu, forçado. —Claro. Obrigado por me receber. A Nunes Tech é líder em IA para dispositivos médicos, e a minha empresa acredita…

—Quer dizer a empresa do seu pai —corrigiu secamente.

Ele estremeceu.

O olhar dela não vacilou. —Sejamos honestos, Duarte. Não está aqui por acreditar na nossa missão. Está aqui porque as Indústrias Albuquerque estão a ficar para trás.

Ele engoliu em seco. Ela não errava.

Mas os negócios não ocupavam os pensamentos de Duarte. Procurava no rosto dela algum traço da mulher que conhecera. Em vez disso, viu alguém mais forte—alguém que não lhe devia nada.

—Não sabia que fundaste uma empresa —disse baixinho.

—Não sabias nada —respondeu ela. —Nunca perguntaste.

As palavras doeram como um murro.

Ele respirou fundo. «Beatriz… preciso de te dizer uma coisa. Há dez anos, era jovem, medroso e estúpido. Tomei decisões por medo.»

Os olhos dela suavizaram-se, mas só de desilusão. «O medo não justifica abandonar uma grávida.»

Faltou-lhe o ar. —Ficaste com o bebé?

Beatriz recostou-se devagar. —Sim, Duarte. Fiquei com o nosso bebé. Um menino. Chama-se Tiago.

O mundo parou.

Um filho. Um miúdo cuja existência desconhecia. Crescera sem ele por culpa da sua fraqueza. A culpa apertou-lhe o peito como um torno.

—Ele… ele está bem? —sussurrou.

Beatriz acenou, voz firme mas cautelosa. —É brilhante. Bondoso. Tudo o que tu não eras na idade dele.

Ele merecia ouvir aquilo.

—Beatriz, por favor —a voz de Duarte quebrou—. Deixa-me vê-lo. Deixa-me pedir desculpa. Deixa-me tentar corrigir as coisas.

Ela fitou-o por longos segundos, pesando dez anos de dor, traição e sobrevivência.

As últimas palavras foram calmas mas arrasadoras.

«Vou pensar, Duarte. Mas se aceitar… será nos meus termos. Não nos teus.»

Três dias depois, Beatriz concordou em encontrá-lo num parque tranquilo perto de casa. Pela primeira vez em anos, Duarte sentiu-se genuinamente nervoso—não por negócios, não por dinheiro, mas pelo momento em que ficaria frente a frente com o filho que abandonara antes mesmo de nascer.

Beatriz chegou com um miúdo de nove anos: pele morena, cabelo castanho-escuro, olhos curiosos e uma centelha de inteligência que fez Duarte engasgar-se. Tiago trazia um robô de brinquedo nas mãos, totalmente absorto.

—Tiago —disse Beatriz com doçura—, este é o senhor Albuquerque. Trabalha em tecnologia, como tu gostas.

O miúdo ergueu os olhos. «Olá, senhor.»

A educação dele partiu a compostura de Duarte. —Olá, Tiago. É… um prazer conhecê-te.

Sentaram-se num banco enquanto Beatriz os observava à distância. Tiago falava entusiasmado sobre competições de robótica, desafios da escola e como queria construir máquinas para ajudar crianças com deficiência. Quanto mais Duarte ouvia, mais o remorso o atormentava. Era seu filho—brilhante, generoso, cheio de sonhos—e ele perdera tudo.

Numa pausa, Tiago perguntou, inocente: «A mamã diz que tu a conhecias. É verdade?»

O coração de Duarte acelerou. Olhou para Beatriz, que anuiu levemente.

—Sim —disse ele, voz rouca—. Há muito tempo. E cometi erros que a magoaram. Agora estou a tentar ser melhor.

Tiago absorveu aquilo com uma maturidade impressionante. «A mamã diz que as pessoas podem mudar. Mas só se realmente quiserem.»

Os olhos de Duarte arderam.

Uma hora depois, Beatriz aproximou-se. Viu as mãos trémulas dele, a culpa no rosto, a cautelosa simpatia de Tiago. Suspirou; dez anos não apagaram a dor, mas ver pai e filho juntos despertou nela algo inesperado—uma frágil esperança.

—E agora? —perguntou Duarte.

Ela estudou-o. —Queres fazer parte da vida do Tiago?

—Com tudo o que sou —respondeu.

—Então prova-o —disse ela. —Constância. Responsabilidade. Esforço. Chega de fugir.

Ele anuiu. «Não vou desistir outra vez.»

Pela primeira vez, ela acreditou—não totalmente, ainda não, mas o suficiente para dar o primeiro passo.

Tiago sorriu aos dois. «Podemos ir todos tomar um gelado?»

Beatriz hesitou. Depois olhou paraE enquanto os três caminhavam em direção à gelataria, sob o sol morno de Lisboa, Duarte sentiu, finalmente, que talvez houvesse redenção no simples e doce sabor de um novo começo.

Leave a Comment