Uma Mãe Solitária Ridicularizada Encontra um Protetor Inesperado no Baile6 min de lectura

Uma mãe solteria triste estava sentada sozinha num casamento, alvo das gozações de todos, quando um chefe da máfia se aproximou dela e disse: “Finge ser minha esposa e dança comigo”…

As risadas ao redor eram mais altas que a música.

Inês estava sentada isolada no canto mais afastado do salão de festas, as mãos nervosamente cruzadas no colo, os olhos fixos na taça de champanhe intocada à sua frente. O vestido florido —emprestado, um pouco desbotado— mal disfarçava o cansaço no seu olhar. Do outro lado do salão, os casais rodopiavam graciosamente sob lustres dourados, enquanto os murmúrios voavam à sua volta como abutres.

—É a solteirona com filho, não é? —disse uma madrinha com desdém. —O namorado fugiu. Não é de admirar que esteja sozinha —riram outras.

Inês engoliu em seco. Prometera a si mesma que não choraria, hoje não, no casamento da prima. Mas ao ver a dança do pai com a filha, algo dentro dela se partiu. Lembrou-se do seu pequeno Francisco, em casa com a avó. Pensou em todas as noites em que fingira estar bem.

Foi então que uma voz atrás dela, grave e suave, disse: —Vem dançar comigo.

Ao virar-se, deparou-se com um homem de fato preto impecável. Ombros largos, olhos escuros, uma aura que silenciou a sala. Reconheceu-o logo: Tiago Mendes, um conhecido empresário de Lisboa, mas os rumores diziam outra coisa —que era um chefe da máfia.

—Eu… nem o conheço —gaguejou ela.

—Então vamos fingir —respondeu ele baixinho, estendendo a mão—. Finge que és minha mulher. Só por uma dança.

O salão ficou em silêncio quando ela se levantou, hesitante, os dedos trémulos a deslizarem na mão firme dele. Murmúrios de espanto percorreram o espaço enquanto Tiago a conduzia para o centro da pista. A música mudou, uma melodia lenta e intensa encheu o ar.

Enquanto dançavam, Inês percebeu algo estranho: as piadas pararam. Ninguém ousava bisbilhotar. Pela primeira vez em anos, não se sentiu invisível. Sentiu-se vista. Protegida.

E quando Tiago se inclinou, a voz quase num sussurro, ouviu palavras que mudariam tudo:

—Não olhes para trás. Apenas sorri.

A música acabou, mas o salão ficou em silêncio. Todos os olhos estavam neles: o homem misterioso e a mãe solteira que, de repente, parecia uma rainha. A mão de Tiago repousava levemente na sua cintura, mas o seu olhar percorria a multidão com uma precisão cortante.

Quando a dança terminou, ele levou-a para fora da pista. —Lidaste bem —murmurou.

Inês piscou os olhos. —O que acabou de acontecer?

—Digamos —respondeu Tiago com um meio sorriso— que eu precisava de uma distração.

Sentaram-se numa mesa no canto, o coração dela ainda acelerado. Ele serviu-lhe uma bebida, cada gesto calmo, calculado. —Essa gente não te vai voltar a importunar —disse ele, observando os convidados a murmurarem—. Têm medo do que não entendem.

Ela estudou-o. O queixo forte, a cicatriz discreta perto da orelha, a maneira como parecia perigoso e gentil ao mesmo tempo. —Não precisava de me ajudar.

—Não o fiz por ti —sussurrou ele—. Alguém aqui queria humilhar-me. Tu ajudaste-me a virar o jogo.

Inês franziu a testa. —Então fui só uma desculpa?

—Talvez —respondeu ele. Depois, o olhar suavizou-se—. Mas não esperava que me olhasses como olhaste. Como se eu fosse… humano.

Antes que pudesse responder, dois homens de fato escuro se aproximaram, murmurando algo. A expressão de Tiago mudou. Levantou-se de repente. —Fica aqui —ordenou, o tom autoritário.

Mas a curiosidade de Inês falou mais alto. Seguiu-o até à entrada, os saltos a ecoarem no mármore.

Perto do estacionamento, viu Tiago a falar com outro homem, este com uma pistola escondida no casaco. As palavras eram duras, tensas. O desconhecido partiu num carro, e Tiago virou-se, surpreendendo-a ali parada.

—Não devias ter visto isso —disse ele, aproximando-se. —Eu não queria… —És corajosa —interrompeu ele—. Ou imprudente.

Os olhos dele cravaram-se nos dela. —Agora que me viste, não podes simplesmente desaparecer da minha vida, Inês.

A brisa da noite trazia o cheiro das rosas e do medo.

Pela primeira vez, Inês percebeu que se tinha metido em algo muito maior do que ela.

Dois dias depois, Tiago apareceu à porta do seu pequeno apartamento. Francisco estava a construir torres de Legos na sala quando olhou para cima e perguntou: —Mãe, é o teu amigo do casamento?

Tiago sorriu ligeiramente. —Algo assim.

Inês ficou paralisada, sem saber se o devia deixar entrar. —Não devias estar aqui.

—Eu sei —disse ele, aproximando-se—. Mas não gosto de deixar coisas por acabar.

Ele reparou no papel de parede a descolar, nos móveis em segunda mão, na força silenciosa nos seus olhos. —Tens lutado sozinha há muito tempo —disse—. Já não precisas.

Inês cruzou os braços. —Nem me conheces.

—Sei o que é ser julgado pelo mundo —disse Tiago baixinho—. Ser o vilão na história de toda a gente.

O silêncio encheu a sala pequena. Francisco espreitou por trás do sofá, segurando um carrinho de brincar. Tiago ajoelhou-se. —Boas rodas —disse. Francisco sorriu, um sorriso raro e genuíno que derreteu o coração de Inês.

Os dias viraram semanas, e Tiago começou a aparecer mais vezes. Umas vezes trazia compras, outras consertava a fechadura partida. E às vezes, não dizia nada, apenas ficava sentado em silêncio enquanto Inês lia uma história ao Francisco antes de dormir.

Os rumores continuavam (falavam de poder, perigo, sangue), mas nada disso importava quando ele estava na cozinha dela a ajudar Francisco com os trabalhos de casa. Não era o homem de quem as pessoas falavam. Era só… Tiago.

Numa noite de chuva forte, Inês perguntou finalmente: —Porquê eu?

Ele olhou para ela com uma intensidade calma. —Porque quando toda a gente desviou o olhar, tu não o fizeste.

Ela não sabia se algum dia poderia confiar nele por completo, mas pela primeira vez em anos, não tinha medo do futuro. A mulher de quem outrora se riam e compadeciam tinha recuperado a força —não num conto de fadas, mas em algo real, cru, imperfeito e cheio de vida.

Enquanto ficavam à janela a olhar a chuva, Tiago sussurrou: —Talvez fingir não tenha sido má ideia, afinal.

Inês sorriu. —Talvez não.

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