Zombaram do vestido dela… até a limusina branca aparecer

As luzes brilhantes da quinta dos Albuquerque iluminavam o céu noturno. Bandeirolas douradas, balões pastel e carrinhos de catering prateados enquadravam o amplo jardim como num cenário de filme. Era a festa de aniversário da temporada, organizada por Beatriz Albuquerque, filha do influente empresário Rui Albuquerque.

Enquanto os convidados circulavam em vestidos de seda e fatos de grife, as risadas ecoavam como notas musicais no ar. Os copos tilintavam. Os olhos brilhavam. Ouviam-se gargalhadas.

E então havia a Leonor.

Ela ficou parada em silêncio perto da sebe, de mãos dadas com a mãe. O vestido azul-claro estava impecavelmente passado, mas era óbvio que não era de marca. Um laço pequeno adornava a cintura, um pouco desfiado nas pontas. A mãe, Isabel, trazia uma blusa simples e um sorriso caloroso.

Elas não pertenciam ali, e todos sabiam.

Beatriz viu-as de imediato e sussurrou algo a um grupo de raparigas. O cabelo, perfeitamente alisado, balançou quando se virou para Leonor e soltou risadinhas abafadas.

“Quem as convidou?”, disse Joana, enrugando o nariz.

“Deve ter havido confusão na associação de caridade”, comentou Beatriz com desdém. “A época de solidariedade começou cedo.”

Leonor tentou esconder-se entre as sombras, as faces coradas. Mas Isabel apertou-lhe a mão suavemente. “Mantém a cabeça erguida, querida. Viemos celebrar, e estás linda.”

Leonor anuiu. Mas, por dentro, queria desaparecer.

No bufê, as provocações continuaram.

“Meu Deus! Isso é… poliéster?”, gracejou um rapaz ao ver Leonor passar. Os outros riram.

“Leonor, a tua mãe fez esse vestido com cortinas?”, perguntou Beatriz, com voz carregada de falsa doçura. “É tão… retrô.”

Os olhos de Leonor encheram-se de lágrimas. Mas Isabel virou-se para o grupo e respondeu com calma: “Obrigada, Beatriz. A Leonor ajudou a escolher o tecido. Acho que ficou encantador.”

Isso só fez com que a multidão risse ainda mais.

Eles não sabiam a verdade: Isabel era mãe solteira e tinha dois empregos. Leonor fora convidada para a festa através do programa de apoio do centro comunitário. Isabel usara o seu único dia livre para coser o vestido com retalhos e rendas de um traje antigo. Era tudo o que podiam pagar. Mas queria que a filha se sentisse especial.

Em vez disso, Leonor estava agora sozinha junto ao muro do jardim, escondida atrás de um feto em vaso.

Foi então que se ouviu alvoroço no portão principal.

Uma buzinada forte.

Seguiram-se suspiros.

Depois, silêncio.

Uma limusine branca e reluzente parou em frente à quinta. A superfície polida brilhava sob as luzes do jardim. Os convidados começaram a murmurar.

“Quem é?”

“É uma celebridade?”

“Será… o presidente da câmara?”

O motorista, um homem alto de fato preto, saiu. Contornou o carro e abriu a porta traseira com gesto elegante.

E então surgiu um homem de fato cinzento, imponente, com cabelo prateado e olhos que pareciam ter visto tanto dor como sabedoria. Segurava uma rosa branca.

A multidão abriu-se como o Mar Vermelho.

Ele olhou ao redor por um momento e depois dirigiu-se… direto a Leonor.

A rapariga pestanejou, confusa, pensando ser engano. Mas o homem parou à sua frente, ajoelhou-se ligeiramente e ofereceu-lhe a rosa.

“Leonor Teixeira?”, perguntou suavemente.

“S-sim”, sussurrou ela.

“Chamo-me Henrique Belmonte. Não me conheces, mas eu conheci o teu pai.”

Os olhos dela arregalaram-se. “O meu… pai?”

Isabel ficou imóvel. Fazia anos que não ouvia esse nome.

Henrique ergueu-se e virou-se para a multidão.

“O pai da Leonor, David Teixeira, salvou-me a vida há dezasseis anos, no desabamento de um prédio. Tirou-me de lá com uma perna partida e recusou-se a sair até todos estarem a salvo. Eu era um arquitecto júnior na altura. David era o chefe da manutenção.”

Agora, Isabel tremia visivelmente.

“Procurei a tua família durante anos”, continuou Henrique, a voz levemente trémula. “Só recentemente, numa conversa no centro comunitário, finalmente te encontrei.”

Virou-se novamente para Leonor. “Vim hoje porque queria conhecer a filha do homem que me ensinou o que é a verdadeira nobreza.”

O silêncio era ensurdecedor.

A Beatriz ficou boquiaberta.

Henrique fez sinal ao motorista, que trouxe uma caixa de veludo.

Ao abri-la, revelou-se um colar delicado, cintilante e radiante. Nada exagerado, apenas belo.

“O teu pai deu-me uma segunda chance. Queria oferecer-te um pequeno gesto da minha gratidão.”

Colocou o colar nas mãos de Leonor, e os dedos dela fecharam-se em volta dele como se fosse um tesouro das estrelas.

Henrique sorriu a Isabel.

“E, Dona Teixeira, agora dirijo um instituto de design. Vi o seu trabalho online. Se estiver interessada, gostaria de lhe oferecer um lugar no nosso programa de mentoria. Apoiamos talentos autodidatas, e acredito que o seu merece ser cultivado.”

Isabel ficou sem fôlego. Levou as mãos ao peito. “Não… não sei o que dizer.”

“Diga apenas que sim”, sorriu ele.

Depois, curvando-se ligeiramente para Leonor, acrescentou:

“Obrigado por usares este vestido. Lembrou-me o que é a verdadeira elegância.”

Enquanto Henrique regressava ao carro e partia, a multidão permaneceu em silêncio, sem saber como reagir. Os mesmos que troçavam dela minutos antes agora olhavam para Leonor com admiração.

Beatriz tentou recuperar a compostura. “Bem, quer dizer… deve ter inventado…”

Mas ninguém lhe deu ouvidos.

Leonor ergueu a cabeça. As faces ainda estavam coradas, mas os olhos brilhavam com algo novo: orgulho.

O resto da noite foi diferente.

A rapariga de quem zombavam era agora aquela com quem todos queriam falar.

Joana aproximou-se, nervosa. “Ei, Leonor? O teu colar é tão bonito…”

Leonor sorriu. “Obrigada. A minha mãe também fez o vestido.”

“Ela é… incrível.”

Beatriz amuou num canto, assistindo à mudança.

Mas Leonor já não se importava. Passou o resto da festa a conversar, a dançar sob as luzes do jardim e a rir com a mãe.

No fim da noite, Isabel e Leonor caminharam para casa sob as estrelas.

Isabel olhou para ela. “Então… estás bem?”

Leonor anuiu, e o colar reflectiu a luz da lua. “Estou mais que bem, mãe. Tinhas razão. Estou linda.”

Isabel sorriu. “Estás, sim.”

Ao chegarem ao seu pequeno apartamento, um envelope branco escorregou da mala de Leonor. Estava escondido sob o colar.

Ela abriu-o.

Dentro, havia uma carta:

*Querida Leonor,

Gostaria de criar um fundo para os teus estudos. Não tens de me devolver nada; o teuE, desde aquele dia, Leonor nunca mais duvidou do poder de um gesto simples, nem do valor invisível que cada pessoa carrega dentro de si.

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